Texto - Miguel Linhares
Angra do Heroísmo – capital açoriana da cultura. Isto é algo que já não faz muito sentido e não é, de todo, verdade, infelizmente! Já o foi, neste momento e por mais que nos custe é Ponta Delgada, por tudo o que acontece semanalmente nesta cidade. Para além de ter excelentes casas de espectáculo, como o Coliseu e o Teatro Micaelense, possui boas salas de exposições, cinema, teatro e por aqui passam inúmeros artistas de todas as vertentes culturais e de todo o mundo. Foram criadas empresas que são responsáveis por cada uma destas casas, ou espaços, de modo a gerirem convenientemente a actividade artística e a tirar lucro delas. No fundo entregou-se a pessoas capazes, a “exploração” da actividade cultural na ilha, com as câmaras municipais a encabeçarem este movimento. É isto que falta, por exemplo, ao Teatro Angrense. Fico triste ao ver o abandono que aquele teatro foi relegado e pela fraca promoção de que é alvo. No Centro Cultural, vá lá, isto já não é tão notório, mas sinto que falta sangue na guelra de quem conduz os destinos daquela casa. Digo isto enquanto angrense, minimamente informado e preocupado com a inactividade cultural da nossa cidade. Dinheiro gera dinheiro, portanto se o município separar inicialmente verbas que sirvam para impulsionar as actividades – bem escolhidas, atenção – o retorno será garantido. É assim que funciona. E depois há mais uma coisa, não pode se entregar, como já se viu, os destinos destes lugares a eruditos. Não funciona! Há que exigir dinâmica, juventude, polivalência e conhecimento abrangente de causa. Senão colocam-se artistas e actividades em cartaz que só interessam a meia dúzia de Srs. Doutores e mais uns quantos curiosos. E isso não dá dinheiro de certeza. Há que aliar o factor comercial com o factor qualidade. E existem inúmeras possibilidades nessa área. É preciso é conhecê-las, antevê-las, fazê-las gerarem lucros e ao mesmo tempo acordar a cidade para a cultura e para o entretenimento. E ai sim! Poderemos novamente nos orgulhar de sermos a capital açoriana da cultura. Até lá, vamos ter que continuar atrás de S. Miguel em mais este assunto…
in jornal "A União" de 12 de Julho de 2006
Pois, mas também existem bons exemplos de gerência cultural, acho que o Ramo Grande na Praia da Vitória é exemplo disso...
ResponderEliminarAngra nunca foi uma capital cultural. Uma capital cultural ( e no fim de contas só os parolos precisam de se afirmar e rotular o que fazem) vai bem mais além do que as actividades côxas e pouco criativas promovidas pela edilidade angrense de há muitos anos a esta parte. E não passa também por uma rendição ao capital e ao óbvio. O La Féria não é opção! Uma boa gestão cultural não passa apenas por uma boa programação ou por uma gestão eficiente dos equipamentos. Passa também pela capacidade de estimular quem deles usufrui e abrir caminho a uma produção local com qualidade, coisa que há muitas décadas não se encontra pelas ilhas ( nem mesmo em S. Miguel encontramos esses projectos!). Angra padece de um orgulho parolo e se não é capaz de se estimar enquanto cidade ( o desleixo da cidade está bem patente!) como poderia ser alguma coisa cultural?
ResponderEliminarA política cultural da cidade está espelhada no abandono da própria urbe.