sexta-feira, janeiro 14, 2011

The Chamber - Revisitando o passado


Texto - Miguel Linhares / Foto - António Araújo

Academia de Juventude da Terceira, 22:00, tempo relativamente calmo com o mar a ficar-se pelo areal. A cidade da Praia da Vitória recebe o primeiro concerto do angrense João Félix no ano de 2011.
Como em quase todos os eventos que se realizam na Terceira, a pontualidade é substituída por um compasso de espera, sendo que 20 minutos foram suficientes para que o jovem João Félix se sentisse confortável para iniciar o seu espectáculo, agora com a pequena Sala Composição com mais público.
Sozinho, utilizando uma Fender Telecaster e com a habitual introversão característica deste artista, o projecto The Chamber é certamente uma viagem no tempo, remetendo-nos para uns longínquos anos 60 e 70 que a maioria do público presente não vivenciou. Assumidamente um admirador de artistas como The Beatles, Bob Dylan, Nick Drake, Jeff Buckley e Oasis, João Félix demonstra claramente na sua música as suas influências e inspirações musicais.
Com uma voz colocada, natural e sem exageros técnicos, João Félix complementa as melodias com a guitarra e, ocasionalmente, a harmónica, instrumentos que domina relativamente bem e que vem progredindo a cada espectáculo.
Foram, aproximadamente, oito os temas originais oferecidos às quase trinta pessoas presentes na sala, entre os quais o já habitual “Mary Jane” e o tema que dá nome ao projecto, mas também alguns temas compostos mais recentemente. Desta vez João Félix deixou de fora do setlist o tema “A poison tree”, tema superiormente composto por ele, tendo como letra um poema de William Blake e que na sua página oficial – www.myspace.com/jooflix - lidera claramente a lista de audições dos visitantes.
Depois de quase uma hora de concerto, o jovem artista fechou a noite com um cover dos The Smiths, “There is a light that never goes out”, deixando uma aparente satisfação geral no público que agora chegava às 30 pessoas.
Após o final do concerto – e como se de um intervalo se tratasse - João Félix acabou por voltar ao palco para tocar mais alguns temas, por vezes a pedido directo de alguns elementos do público. Tocou novamente alguns dos temas originais, visitou pela 2ª vez os The Smiths e prestou homenagem aos Oásis e a Jeff Buckley. Acabou por ficar em palco quase uma hora e meia, fazendo deste um concerto verdadeiramente intimista!
Sempre de poucas, mas directas, palavras, João Félix provou novamente ser um artista com uma sensibilidade musical muito apurada e notoriamente destacada da generalidade da sua geração. Agora a viver em Lisboa, por motivos académicos, João Félix terá com certeza um contacto mais refinado com a realidade musical nacional, podendo daqui advir uma evolução positiva nas suas composições.
Fica mais uma vez a vontade de ver o artista acompanhado por uma banda, passo que certamente dará quando achar oportuno. Enquanto tal não acontecer, as palmas e os elogios vão inteiramente para ele.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Resposta Simples apresentam-nos a sua Mãe Terra

Texto - Miguel de Aguiar / Foto - Academia de Juventude da Terceira

É com o 7” EP “Gaia” lançado a 20 de Dezembro pela Juicy Records que os Resposta Simples voltam ao ataque após o lançamento do álbum “Sonho Peregrino” editado em 2008. Gaia é o primeiro vinil Punk a ser editado nos Açores e apesar de parecer estranho o lançamento de vinis nos dias que correm em que o formato digital está já enraizado no mercado musical os punkers terceirenses seguem, segundo Paulo Lemos, uma linha de continuidade musical própria das bandas de Punk Hardcore. Para trás fica um álbum, dois EP’s, uma demo e várias participações em compilações, não menos importante foi o reconhecimento como banda “Novo Talento” pelo site Musica Total e ainda a participação em 2005 no concurso de bandas de Vila Real tendo sido apurados para actuar na Queima das Fitas de Vila Real, partilhando o palco com os Blasted Mechanism. Desde 2005 a banda tem tentado contrariar o que seria de esperar e conseguiram quebrar as barreiras da insularidade sendo mesmo aclamados como um dos colectivos mais reconhecidos do panorama açoriano no continente pela revista Loud!.

“Matiné de Natal” no passado dia 26 de Dezembro foi o pretexto para o trio angrense apresentar-nos o seu novo registo num concerto ao vivo fazendo-se acompanhar pelo colectivo System Failure. Um evento que contou com o apoio da Associação Cultural Burra de Milho mostrando assim que o que muitos consideram “barulho” também deve ser considerado cultura e merece todo o respeito e apoio. A Academia da Juventude da Ilha Terceira foi o espaço que acolheu esta iniciativa, situado na cidade de Praia da Vitória este é um novo recinto polivalente que tem como principal objectivo a promoção do empreendedorismo e da criatividade.

Por volta das 16 horas, uma hora mais tarde do que o previsto, deram inicio às hostilidades os System Failure com a projecção de um vídeo filmado durante a ECO 92 - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em que Severn Suzuki da Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente apelou para a consciencialização dos actos sobre o meio ambiente. Atribulados por um pequeno imprevisto de ordem técnica, o colectivo liderado por Rui Reis inicia o seu concerto um pouco retraído com o tema Old Times de RAMP. Não, os System Failure não são uma banda de covers e como tal deveriam ter começado com um dos seus vários temas originais, nota negativa neste aspecto. The Idiot, ironicamente dedicado a George Bush, Lost Gun marcado pelo cumprimento sentido entre Rui Reis e Paulo Silva (ex vocalista da banda) e Magister Mundi Sum foram os temas que nos levaram até metade do concerto sendo este último numa toada mais calma perfeito para o registo vocal do frontman. Golden Age dos germânicos Kreator foi o tema que se seguiu, mais uma cover bem executada pelo quinteto angrense que nos levou até ao final da sua actuação com mais três temas originais a variar entre o Hard Rock e o Heavy Metal. A destacar a presença e performance do guitarrista solo Artur Reis que se tem vindo a soltar nas últimas actuações e do já veterano vocalista que nos tem acostumado já com a sua irreverência e atitude sem vergonha em palco.

“Esta cultura de nada te serve minha amada, encontra em mim o conforto a que me obrigas”, são as palavras que se podem ouvir em “Sem Cura” tema retirado do novo EP e que serviu de guia para o videoclip que os Resposta Simples nos apresentaram. Com produção a cargo de Tiago Castro e Fábio Couto (baixista da banda), o vídeo sensibiliza-nos para uma consciencialização ambiental desvanecida por um capitalismo desenfreado, temática abordada em “Gaia”.

Das 11 malhas de puro Punk Hardcore da velha escola cantadas na nossa língua mãe “Relações Cortadas” deu o mote inicial para uma actuação que havia de percorrer todos os registos discográficos do trio com excepção ao EP de 2004 “Teatro da Vida”. Para além da interpretação na íntegra do novo EP os Resposta Simples deram especial evidência para o seu album “Sonho Peregrino” de onde se destacou “Genocidio Cultural” e “Descanso Eterno”. Descanso foi o que Paulo Lemos não teve e foi bem notório ao longo de um concerto que poderia ter sido mais frenético do que aquele que assistimos muito possivelmente retraidos pelo público local estático que continua parecer não ser muito apreciador desde género musical. Neste aspecto nota menos positiva vai para Fábio Couto que não se soltou como seria de esperar. O setlist contou ainda com “Revolução Pessoal”, “Atitude (Começar de Novo)” e “Neglicência” retirado da primeira demo-tape e dedicada ao seu compositor – João Pedro ex guitarrista da banda. Foram estes os temas que nos guiaram ao fim, e foi para o fim que o melhor ficou guardado, “Muro da Banalidade – Gaia” é sem dúvida o melhor tema de “Gaia” e contou com a participação de Phillipa Cardoso no entanto foi pena este tema não ter sido interpretado como no disco com a adição de didgeridoo e de percussão extra – instrumentos do mundo que fazem deste um tema do mundo. Faltou um encore a pedido do público que poderia ter sido o último tema tocado no entanto foi bem visivel que os Resposta Simples tinham dado por terminada a sua actuação.

O recinto, o som e as entradas pagas merecem nota positiva. Um espaço moderno e bastante agradável que nos disponibiliza uma sala com boa acústica e material de som suficiente para se ouvir bem alto o que por lá se toca fazem deste provavelmente o melhor recinto na actualidade na ilha Terceira para eventos deste género e espero que seja bem aproveitado e que sejam dadas oportunidades aos artistas locais de o usufruirem. As entradas cobradas são sem dúvida algo a que os terceirenses devem começar a habituar-se. É completamente impossivel para uma banda gravar e editar um disco em troca de cerveja, como tal é necessário criar meios financeiros que o tornem possivel. Algo que o público terceirense tem que se começar a habituar também é à hora de inicio dos eventos. Neste aspecto o dedo deverá ser apontado às organizações e esta não escapa e como tal merece nota negativa. Enquanto os eventos tiverem uma hora de atraso, a grande maioria das vezes propositada na esperança de que o recinto fique mais bem composto, o público nunca se irá habituar à pontualidade. Por falar em público, o que é feito daqueles que passam a vida a reclamar que nunca se faz nada por cá e quando há um evento como o do lançamento do EP dos Resposta Simples estes não estão presentes? Terá sido pelo dia e hora escolhidos? Talvez, mas a festa de lançamento de um disco não sucede com muita frequência por cá e se não forem as pessoas ligadas a este meio que se apoiem umas às outras dificilmente será mais alguém.

Ainda me lembro destes rapazes com meia dúzia de pêlos na cara a darem os primeiros passos na música, hoje em dia e passados já 7 anos já foram responsáveis por um festival que trouxe cá pela primeira vez os conhecidos Mata Ratos, criaram uma editora e contam já com 5 registos de estúdio. Atitude e perseverança é o que leva estes punkers a já terem feito mais pela música do que muitos de nós que já estamos ligados a este meio há mais tempo. Ah pois é!

Concerto The Chamber


No próximo dia 07 de Janeiro, a Academia de Juventude da Ilha Terceira apresenta:

20h00 | Exposição Fotográfica ALMA de André Pimentel
22h00 | Concerto THE CHAMBER - projecto musical de João Félix

Artistas Residentes

André Pimentel –  nasceu em Angra do Heroísmo a 6 de Abril de 1989. Desde cedo demonstrou um apelativo interesse por fotografia dando, assim, os primeiros passos no mundo das Artes.Actualmente estudante universitário de Design de Comunicação na Escola Superior de Artes e Design, André Pimentel completou o Ensino Secundário em Angra do Heroísmo na Escola Secundária Jerónimo Emiliano e, em 2007, frequentou o Curso de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Além da sua participação na exposição "Acreditar na Fotografia", vários dos seus trabalhos anteriores constam de Revistas, Páginas Electrónicas e Jornais ligados à Festa Brava, e foram também já expostos em diversos Certames, Feiras e Mostras na Ilha Terceira.

João Félix - nasceu em Angra do Heroísmo, em 1990. Tinha cerca de cinco anos de idade quando começou a familiarizar-se com o som dos Beatles, e já então tinha os seus temas favoritos, mas foi por volta dos dez que começou a ouvir música com atenção e interesse. No Natal de 2002 teve a sua primeira guitarra, e assim que aprendeu os primeiros acordes, não demorou a aventurar-se na escrita (quase compulsiva) de canções. Além dos Beatles, inspiravam-no também a música de Bob Dylan e os Pink Floyd da era de Syd Barrett. Assim, foi construindo um repertório musical que hoje conta com um grande número de canções. Ao longo dos anos, tem descoberto também a música de Nick Drake, Elliott Smith e Jeff Buckley, decisivamente influentes na composição dos seus temas. Actualmente, João Félix apresenta-se com o projecto musical The Chamber, e tem em vista um primeiro álbum que contará com uma selecção cuidadosa das muitas canções que tem escrito até agora.