segunda-feira, julho 14, 2008

Vou estar ausente...

Camaradas, vou estar ausente do Musicofilia nas próximas duas semanas, pelo menos.
Tenho o Festival Azure para colocar de pé e o trabalho é mais que muito, pelo que não vou ter tempo de estar aqui. Se, eventualmente, acontecer algo que mereça algum destaque mais especial e eu tenha oportunidade, venho cá deixar-vos notícias. Caso contrário, vejo-os no Azure.
Abraço a todos.

sábado, julho 05, 2008

Concertos só para alguns gostos.

Texto - Miguel Linhares

Esta semana pouco há para falar. Tudo o que havia para dizer está no artigo aqui ao lado, as Sanjoaninas. É uma semana em que as noites vão dar ao mesmo sítio, mesmo quando sabemos que os concertos não são muito interessantes.
Não pretendo estar aqui a apontar defeitos ou aspectos menos bons nesse aspecto. Temos que respeitar o trabalho e empenho dos outros. Enquanto parte integrante do público e enquanto angrense prefiro guardar essas conversas para o meu grupo de amigos, pois ninguém ganha nada com comentários desse género. Se alguém estiver mesmo interessado em saber a minha opinião sobre alguns aspectos dos espectáculos das Sanjoaninas, então aí talvez torne pública a minha posição, ou, se for o caso, dar-lha-ei a essa pessoa interessada.
Mas existem pontos que tem que ser mencionados e o único facto que pretendo e continuo a frisar – e julgo ser importante – é um rejuvenescimento na organização dos espectáculos musicais e seu figurino nas festas. A profissionalização, se possível. Esta experiência já foi testada aqui bem perto de nós em outras festas de grande dimensão e está a dar os seus frutos. E aposto que sai mais barato!
Não se pode continuar a fazer as Sanjoaninas só ao gosto de alguns. Há que inovar, ser dinâmico, perceber a cultura como um todo, entender a música como uma arte única, caracterizá-la tendo em conta o tipo de festa, apontá-la eficazmente ao público e – o mais importante – dar um lugar merecido aos artistas locais, neste caso às bandas, pois os Dj´s, pelo menos este ano, foram reis e senhores dos pratos (e tiveram quase todos nota positiva).
Não se pode continuar a ignorar os artistas locais, alguns dos quais só conseguem realmente ter reconhecimento fora da ilha e no continente, por se arriscarem nesses meios, visto as grandes festas da nossa ilha continuarem a ignorá-los. Os palcos já escasseiam, não é preciso cortar-lhes mais as pernas.
E caso isso seja feito, que não sejam sempre as mesmas bandas, ano sim, ano não! Existem imensos jovens com talento na nossa ilha que merecem mais respeito e consideração. Além disso, temos uma grande variedade musical na nossa ilha, desde pop e acústico, até ao metal, passando pelo rock, punk, hard, alternativo, experimental… escolham o género. E existe público para esses artistas, utilizando a fórmula certa e não os atirando para qualquer palco, a qualquer hora. Assim seria (como já aconteceu em anos anteriores) um fracasso para ambas as partes, artistas e organização. É só pensarem um bocadinho, munidos de boa vontade e sensibilidade cultural que tudo dá certo. Vamos ver se em 2009 muda alguma coisa…

in jornal "A União", 2 de Julho, 2008

Sanjoaninas

Sanjoaninas – Parte 1 (24 de Junho)

Texto – Miguel Linhares / Fotos – Edson Areias

Chegaram mais umas Sanjoaninas. Milhares de pessoas acorrem ao centro da cidade de Angra do Heroísmo para ver as maiores festas. Independentemente do que cada um gosta de mais ver por lá, a nós interessa a música.
É quase impossível ver todos os espectáculos que ocorrem nos três palcos espalhados pela cidade, pelo que há que fazer uma pré selecção dos que achamos que queremos mesmo ver.
Mas desde já e passados 4 dias de festa já é possível fazer um balanço do que por lá aconteceu. E não é justo começar sem mencionar as actuações de Kumpania Algazarra, tanto na Rua de S. João, fazendo animação de rua na própria noite de S. João, como no dia a seguir, ou seja ontem, no palco da Alfândega.
Muito influenciados pelo som Gipsy e coladinhos a Emir Kusturica, este colectivo português já tinha deixado boas impressões nas Festas da Praia no ano passado.
Na noite de S. João foram arrebatadores. A rua parecia uma pista de dança, muito sui generis, diga-se, ao som dos metais, da batida rápida e do megafone dos Kumpania. Começou ás 3 da manhã andou pela cidade e, dizem, só acabou pelas 8 na porta do hotel, sempre com público a segui-los. Na noite passada, já em formato de palco, deram mais um excelente concerto, com muita energia, extrema interactividade com o público e uma sonoridade que realmente prima pela excelência.
Grande destaque também teve os Rosa Negra, banda que já cá tinha estado em 2007 no Festival Azure e no Auditório do Ramo Grande. Esta – a par dos Kumpania Algazarra – também uma grande aposta da organização. Aqui o fado anda por caminhos que não tinham sido percorridos, sonoridades longínquas à voz portuguesa, mas que aqui fundem-se na perfeição. Os Rosa Negra mereciam o palco principal das festas.
Também de notar as boas prestações de Jorge Palma no sábado, no palco do Porto de Pipas e dos terceirenses RIP e Strëam no domingo. Uma nota engraçada teve o guitarrista de RIP, Kit, que no final do concerto e entre os agradecimentos vangloriou-se de serem a única banda na Terceira que arriscava fazer músicas originais em português. Erro crasso para um músico com experiência e que, supostamente, devia conhecer o pequeno meio musical terceirense. Esqueceu-se dos companheiros de agência, os Goma, que existem há dois anos e também fazem-no (e muito bem, diga-se), corrigindo esse pormenor logo a seguir. Mas esqueceu-se de muitas outras.
Esqueceu-se dos Manifesto que fazem-no há 11 anos. Esqueceu-se dos Resposta Simples que fazem-nos há 7 anos, dos Amnnezia que tem pelo menos duas músicas originais em Português, dos Anéis de Marfim, de João da Ilha (que tem actuado mais por Setúbal, mas que neste mês de Julho já actua cá na ilha), Fora de Mão…
Um apontamento muito engraçado de Kit.
Para finalizar esta primeira parte das Sanjoaninas, mencionar o concerto de ontem à noite da americana Lisa Doby, uma artista desconhecida entre a maioria do público, mas que rapidamente cativou os presentes através da sua alegria e muito boa voz, acompanhada de excelentes músicos. Muito soul nesta artista. Falta ainda ver, entre muitos outros, Clã, Luís Represas, Orquestra AngraJazz e Xaile.

Sanjoaninas – Parte 2 (30 de Junho)

Texto – Miguel Linhares / Fotos – Pedro Costa/Fotaçor

Finalizadas que estão as festas Sanjoaninas deste ano, convém rever um pouco o que se passou a nível musical pelos variados palcos da cidade. Na primeira parte desta crónica – escrita no dia 24 de Junho, ou seja, a meio das festas – ficou vincado a boa actuação de alguns dos artistas que passaram pelo palco do Porto de Pipas e pela Alfândega, essencialmente.
Do que se passou posteriormente mais um pouco há a apontar e que merece destaque.
O concerto dos Anjos teve uma das maiores enchentes no cais da cidade, mais ainda tendo em conta que era uma quarta-feira. Musicalmente nada de novo e o público era composto maioritariamente por adolescentes – algumas mesmo histéricas – mas a nível visual e estético a banda esmerou-se.
Xaile foi uma das boas surpresas deste cartaz. Banda com três front ladies, dinâmicas, com boas vocalizações e uma sonoridade realmente interessante. Muitas influências e fusões no som de Xaile, havendo talvez predominância pela cultura musical celta, mas dando mais umas voltas ao mundo.
Clã, sem sombra de dúvida, foi o melhor espectáculo no palco principal das festas. Apesar do som dos Clã poder suscitar opiniões diversas, a verdade é que a banda domina o palco e a vocalista, Manuela Azevedo, é uma força da natureza. Energia q.b., sentimento e cumplicidade são condimentos presentes na actuação dos Clã que ficou na memória nos terceirenses.
No sábado subiu ao palco o veterano Luís Represas que confirmou o que se esperava. Uma actuação profissional, directa ao público, juntando temas novos e alguns clássicos da música portuguesa da autoria de um dos mais conceituados artistas da música ligeira.
Resta mencionar a relativa qualidade incluída no cartaz deste ano, embora tenha faltado um nome internacional de peso. Lisa Doby foi fantástica, mas era um nome muito desconhecido para o público local, o que se reflectiu na quantidade de pessoas que presenciavam o espectáculo, muito poucas.
A nível de Dj´s todos os créditos devem ir para os artistas locais que foram quem fez a festa. Nomes grandes? Poucos ou nenhuns, excepção feita ao portuense Overule que nem teve uma actuação tão soberba. O mérito tem que ir para os Dj´s locais que estiveram bem na sua maioria, apesar de ainda haver alguns “curiosos” nesta arte que – apesar de pensarem o contrário – não é para todos.
O facto do recinto dos principais eventos musicais ser agora no Porto de Pipas – em detrimento do Bailão – é uma opção muito discutível em todos aspectos, mas que cada um deverá tirar a sua conclusão.
Para o ano há mais!

in jornal "A União", 2 de Julho, 2008
"A Noite" - RDP-Açores (1ª parte a 25 de Junho, 2ª parte a 2 de Julho)