Realmente sofro de uma certa nostalgia, ainda mais quando noto que não existe muita criatividade musical a sair dos jovens. A falta de incentivos não pode ser um argumento, visto que só é necessário muita vontade para se juntar um grupo de amigos e começar a tocar numa garagem qualquer, seja com que material for. Obviamente que se for para trazer projectos à rua é preciso haver condições, mas isso adquire-se com o tempo. Quando comecei nesta “brincadeira” dos grupos ensaiava-se em qualquer sítio, com material limitadíssimo, de pouca qualidade, não raras as vezes juntava-se duas pessoas a tocar com um violão e uma bateria que nem merecia esse nome, mas o entusiasmo era sempre enorme! Ainda assim, há uns 10 anos atrás haviam mais grupos de Rock na Terceira do que há hoje e haviam mais concertos. Muitas foram as bandas que saíram dos pátios do liceu, tendo algumas resistindo até à data, mas existe uma que apesar de pouco tempo de actividade primou pela ousadia. Eram os Deathfull, vinham da Agualva e eram fãs dos Paradise Lost, sendo este o som que praticavam, Metal Gótico, pesado, sujo, negro. Não me consigo lembrar se tinham temas originais, mas lembro-me que tocavam temas como “True Belief” e “As i die” dos já mencionados Britânicos. Tinham atitude, presença em palco e sempre muita gente a ver os concertos, aliás, facto este, que seria agradável de ver actualmente nos concertos Rock. A vida não lhes incentivou a continuar com o projecto, só eles sabem porquê, mas ficou meia dúzia de concertos registados que quem saia à noite naquela altura lembra-se bem. Eram a banda mais “Heavy” que nós tínhamos por cá e se calhar se tivessem continuado talvez envergonhassem muitos meninos que de á uns anitos para cá passaram a ser “metaleiros”. Não eram uma banda de ocasião, sempre que eram contactados iam actuar fosse onde fosse, sempre vestidos de negro e com a postura necessária, rasgando com sonoridades pesadas e deprimentes.
Não faço a mínima ideia do que é feito deste projecto, que já deve estar muito bem enterrado, infelizmente, mas ainda gostava de vê-los a actuar um dia destes com a mesma postura que tinham naquela altura. Serviria de exemplo a muitos com certeza e seria de louvar ver uma reunião ao fim de tantos anos. Talvez ouçamos falar deles um dia destes, quem sabe? Nada é impossível…
in jornal "A União", 27 de Abril 2005
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