Texto - Miguel Linhares / Fotos - Contratempo
O cartaz musical de um evento não é, por vezes e por si só, um atractivo. Neste caso concreto só o nome de Jamiroquai era suficientemente sonante para que se enchesse um campo de jogos, mas não encheu. Mas vamos começar do início!
As bandas regionais tiveram um lugar merecido neste evento e logo no dia 28 foram os Trauma Prone a inaugurar a excelente potência decibel do recinto e isto no palco secundário. A banda mais pesada, musicalmente, deste evento rasgou o silêncio com temas originais que não são a preferência da maioria, mas que possui bastantes amantes do género na ilha. Não deixaram a desejar e realça-se as excelentes vocalizações, muito directas e poderosas. De seguida e já no palco principal foi a vez de Boss AC animar as poucas pessoas que estavam presentes, embora o recinto estivesse a compor-se. A boa vertente lírica deste artista sobressaiu, novamente, acompanhado por uma banda em que o realce natural vai para o Dj e para a secção rítmica, algo intrínseco a este género musical e sendo Boss AC um dos expoentes máximos em Portugal. De seguida foram os micaelenses In Peccatum a trazer também linhas musicais pesadas, mas estas mais melódicas e numa vertente mais Gótica/Doom. Já são um conjunto conhecido e respeitado nos Açores e provaram que a música pesada continua bem viva! Daniela Mercury não necessita muitas apresentações. A vida que oferece aos seus concertos já é por demais conhecida e isso foi o que aconteceu em mais este espectáculo da artista na nossa região. Espectáculo muito coeso, marcado por excelentes precursões, vocalizações electrizantes e a energia que por si só passa para o público, para além de ter celebrado neste dia o seu 41º aniversário, o que não se nota... o público agradeceu o concerto e retribuiu com os parabéns! Os decanos do Metal regional, Morbid Death, proporcionaram um concerto irrepreensível a todos os níveis e entre temas do novo álbum e clássicos, todos originais, demonstraram que os 16 anos do conjunto só trouxeram experiência e mais categoria. Nota mais que positiva! A fechar esta primeira noite, Juanes, um artista colombiano conhecido em todo o mundo e que deixava antever uma apresentação enérgica. Assim não foi, apesar da qualidade superior do conjunto que o acompanha. Foi um concerto algo monótono, repetitivo e que levou, somente, uma pequena parte do recinto instalada á frente do palco ás palmas mais fervorosas e á dança mais entusiasmante. Musicalmente superou, faltou energia e “agressividade”. Talvez não tivesse sido mal pensado fechar esta noite com Daniela Mercury em vez de Juanes…
Na segunda noite os A Diferent Mind foram iguais a si próprios e demonstraram porque venceram a edição deste ano do concurso AngraRock. Embora continue a faltar alguma presença em palco, este conjunto só sofreu da fraca afluência de público. De seguida os veteranos Passos Pesados não foram propriamente uma surpresa agradável. Para além do desfile de alguns temas muito conhecidos, pouco mais há a apontar a este conjunto que necessita de uma lufada de ar fresco. Já no palco principal os portugueses Expensive Soul trouxeram sons a vaguear entre o Hip Hop, Reggae e Ska, com uma componente lírica com pouco “sumo”, mas suficiente para agradar ao público presente que, no fundo, o que esperava era ver o Sr. Jay Kay. Por esta altura já se notava a fluente entrada de pessoas no recinto, algo que, até então, era o grande pecado deste festival.
Os Ynot, banda formada por músicos de várias ilhas dos Açores, foram uma das melhores surpresas do festival, trazendo sons a roçar o Blues e o Rock mais clássico. Muita qualidade, entre algumas “covers”, excelente secção rítmica e uma guitarra irrequieta arrancaram muitas palmas do público. Boa aposta!
Jamiroquai trouxe a energia necessária a um resto de noite em grande. Foi um dos concertos mais profissionais já presenciados nos Açores, sem dúvida! Rock, Soul e o Funk traçam as linhas principais de um concerto de nota máxima, com um público acordado, vivo e com momentos de total euforia. Impossível ficar indiferente a este artista de nível mundial que foi o ponto alto deste festival. Mesmo por esta altura, seria de esperar mais pessoas no recinto, algo que acabou por ser o senão de todo o evento…terá sido o preço o grande “papão” do festival Ponta Delgada?!
in "Jornal dos Açores", 30 de Julho, 2006 e jornal "A União", 02 de Agosto, 2006
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