Texto – Miguel Linhares / Fotos – Edson Areias
Chegaram mais umas Sanjoaninas. Milhares de pessoas acorrem ao centro da cidade de Angra do Heroísmo para ver as maiores festas. Independentemente do que cada um gosta de mais ver por lá, a nós interessa a música.
É quase impossível ver todos os espectáculos que ocorrem nos três palcos espalhados pela cidade, pelo que há que fazer uma pré selecção dos que achamos que queremos mesmo ver.
Mas desde já e passados 4 dias de festa já é possível fazer um balanço do que por lá aconteceu. E não é justo começar sem mencionar as actuações de Kumpania Algazarra, tanto na Rua de S. João, fazendo animação de rua na própria noite de S. João, como no dia a seguir, ou seja ontem, no palco da Alfândega.
Muito influenciados pelo som Gipsy e coladinhos a Emir Kusturica, este colectivo português já tinha deixado boas impressões nas Festas da Praia no ano passado.
Na noite de S. João foram arrebatadores. A rua parecia uma pista de dança, muito sui generis, diga-se, ao som dos metais, da batida rápida e do megafone dos Kumpania. Começou ás 3 da manhã andou pela cidade e, dizem, só acabou pelas 8 na porta do hotel, sempre com público a segui-los. Na noite passada, já em formato de palco, deram mais um excelente concerto, com muita energia, extrema interactividade com o público e uma sonoridade que realmente prima pela excelência.
Grande destaque também teve os Rosa Negra, banda que já cá tinha estado em 2007 no Festival Azure e no Auditório do Ramo Grande. Esta – a par dos Kumpania Algazarra – também uma grande aposta da organização. Aqui o fado anda por caminhos que não tinham sido percorridos, sonoridades longínquas à voz portuguesa, mas que aqui fundem-se na perfeição. Os Rosa Negra mereciam o palco principal das festas.
Também de notar as boas prestações de Jorge Palma no sábado, no palco do Porto de Pipas e dos terceirenses RIP e Strëam no domingo. Uma nota engraçada teve o guitarrista de RIP, Kit, que no final do concerto e entre os agradecimentos vangloriou-se de serem a única banda na Terceira que arriscava fazer músicas originais em português. Erro crasso para um músico com experiência e que, supostamente, devia conhecer o pequeno meio musical terceirense. Esqueceu-se dos companheiros de agência, os Goma, que existem há dois anos e também fazem-no (e muito bem, diga-se), corrigindo esse pormenor logo a seguir. Mas esqueceu-se de muitas outras.
Esqueceu-se dos Manifesto que fazem-no há 11 anos. Esqueceu-se dos Resposta Simples que fazem-nos há 7 anos, dos Amnnezia que tem pelo menos duas músicas originais em Português, dos Anéis de Marfim, de João da Ilha (que tem actuado mais por Setúbal, mas que neste mês de Julho já actua cá na ilha), Fora de Mão…
Um apontamento muito engraçado de Kit.
Para finalizar esta primeira parte das Sanjoaninas, mencionar o concerto de ontem à noite da americana Lisa Doby, uma artista desconhecida entre a maioria do público, mas que rapidamente cativou os presentes através da sua alegria e muito boa voz, acompanhada de excelentes músicos. Muito soul nesta artista. Falta ainda ver, entre muitos outros, Clã, Luís Represas, Orquestra AngraJazz e Xaile.
Sanjoaninas – Parte 2 (30 de Junho)
Texto – Miguel Linhares / Fotos – Pedro Costa/Fotaçor
Finalizadas que estão as festas Sanjoaninas deste ano, convém rever um pouco o que se passou a nível musical pelos variados palcos da cidade. Na primeira parte desta crónica – escrita no dia 24 de Junho, ou seja, a meio das festas – ficou vincado a boa actuação de alguns dos artistas que passaram pelo palco do Porto de Pipas e pela Alfândega, essencialmente.
Do que se passou posteriormente mais um pouco há a apontar e que merece destaque.
O concerto dos Anjos teve uma das maiores enchentes no cais da cidade, mais ainda tendo em conta que era uma quarta-feira. Musicalmente nada de novo e o público era composto maioritariamente por adolescentes – algumas mesmo histéricas – mas a nível visual e estético a banda esmerou-se.
Xaile foi uma das boas surpresas deste cartaz. Banda com três front ladies, dinâmicas, com boas vocalizações e uma sonoridade realmente interessante. Muitas influências e fusões no som de Xaile, havendo talvez predominância pela cultura musical celta, mas dando mais umas voltas ao mundo.
Clã, sem sombra de dúvida, foi o melhor espectáculo no palco principal das festas. Apesar do som dos Clã poder suscitar opiniões diversas, a verdade é que a banda domina o palco e a vocalista, Manuela Azevedo, é uma força da natureza. Energia q.b., sentimento e cumplicidade são condimentos presentes na actuação dos Clã que ficou na memória nos terceirenses.
No sábado subiu ao palco o veterano Luís Represas que confirmou o que se esperava. Uma actuação profissional, directa ao público, juntando temas novos e alguns clássicos da música portuguesa da autoria de um dos mais conceituados artistas da música ligeira.
Resta mencionar a relativa qualidade incluída no cartaz deste ano, embora tenha faltado um nome internacional de peso. Lisa Doby foi fantástica, mas era um nome muito desconhecido para o público local, o que se reflectiu na quantidade de pessoas que presenciavam o espectáculo, muito poucas.
A nível de Dj´s todos os créditos devem ir para os artistas locais que foram quem fez a festa. Nomes grandes? Poucos ou nenhuns, excepção feita ao portuense Overule que nem teve uma actuação tão soberba. O mérito tem que ir para os Dj´s locais que estiveram bem na sua maioria, apesar de ainda haver alguns “curiosos” nesta arte que – apesar de pensarem o contrário – não é para todos.
O facto do recinto dos principais eventos musicais ser agora no Porto de Pipas – em detrimento do Bailão – é uma opção muito discutível em todos aspectos, mas que cada um deverá tirar a sua conclusão.
Para o ano há mais!
in jornal "A União", 2 de Julho, 2008
"A Noite" - RDP-Açores (1ª parte a 25 de Junho, 2ª parte a 2 de Julho)
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