Texto - Miguel Linhares
Tema batido e rebatido em muitas conversas formais, informais, nos jornais, outros órgãos de comunicação social e por vezes por pessoas que julgam que sabem bem o que estão a dizer.
Para se compreender a cultura não é necessário se ser licenciado, mas ter somente sensibilização. Até porque a maior parte das pessoas na Terceira que possuem cargos ligados à cultura ou tem de alguma forma agências ou meios de produção (oficiais ou não), não são licenciados e/ou não tem licenciatura nesta área. Por vezes nem formação – e pior - nem conhecimento geral. Outros são os que possuem a tal sensibilização e percebem a cultura como ela é e não como ela deve parecer. Acima de tudo deverá ser um bem - não patrimonial – partilhado por todos, mas também criado, pensado ou imaginado por todos. E assim não é.
Quando há tempos escrevi sobre o relativo abandono em que o Teatro Angrense se encontra, recebi alguns comentários de apoio e recebi um – indirecto – de desaprovação. As críticas que não são construtivas e que se baseiam em “boas vontades”, nunca passam disso. Críticas indirectas. No entanto, dou-lhes tanto valor quanto as outras, afinal, somos todos conterrâneos. Mas penso assim: se realmente todos os angrenses e terceirenses compreendessem a cultura, as artes (não só as tradicionais), a criação, a contemporaneidade, as manifestações (radicais, ou não) dos jovens…não sofríamos neste momento de letargia. Uma letargia que não deixa transparecer que na verdade são estes jovens que daqui a poucos anos vão ser a parte dominante e activa da sociedade, que são eles o futuro da ilha. Que são a eles quem se deve apontar os holofotes neste momento. E que, se calhar, quanto mais se apoiar e promover estas manifestações, mais produtividade e qualidade teremos!
Talvez o porquê de tanta inércia esteja ainda camuflado entre a “humidade” que reside no Teatro Angrense e em todos os outros espaços subaproveitados da nossa ilha. Talvez tenhamos mesmo que esperar pela nossa vez, para sermos nós a realizar o que, imediatamente, era perfeitamente realizável.
Mas façam-nos um favor: vejam as estatísticas sobre o Coliseu Micaelense nos últimos dois anos e o seu modo de acção. Ponto parágrafo.
Depois não se admirem que o centro cultural activo da região esteja em S. Miguel…embora continuem a transmitir que a famosa – e polémica – capital açoriana da cultura está na Terceira…
Assim eu queria!
in jornal "A União", 31 de Janeiro, 2007
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