Texto – Miguel Linhares
Fotos – Miguel Linhares / Marisa Barbosa / Metalicidio.com
Foi neste fim-de-semana passado que se realizou o maior evento do género nos Açores, o Festival Alta Tensão que trouxe à região nomes importante do metal nacional e internacional. Tendo como palco o majestoso Coliseu Micaelense, bandas como os consagrados dinamarqueses Mnemic, e os portugueses Reaktor, Concealment e Forgodsfake foram cabeças de cartaz em duas noites que abriram uma oportunidade única aos locais Stampkase, Psy Enemy, Morbid Death e aos terceirenses Anomally. Antes do espectáculo, na tarde de sexta-feira, houve um pequeno debate entre organização, António Freitas (conhecido radialista da Antena 3) e o público e com a presença do Director do Coliseu e Melissa Cross, que veio ministrar um curso sobre técnica vocal no domingo seguinte. Discutiu-se um pouco sobre o metal em Portugal, as dificuldades na nossa região e o papel que tem um evento destes ao passar pelos Açores. Ficou patente a vontade de se querer fazer mais alguma coisa nos Açores ou que envolva projectos açorianos, mas ganha real destaque a relativa dificuldade em realmente levar ideias dessas avante. A tal questão do monopólio aéreo que fazem com que viajar para os Açores (ou sair dos Açores) seja mais caro do que ir para quase qualquer lado da Europa! Ainda assim, ficou a promessa que se pensar outros eventos que inclua os Açores.
A nível de organização algumas coisas falharam logo à partida com o teste de som a levar uma tarde inteira para ser feito, obrigando os Anomally a esperarem pela realização do mesmo. Particularidade deste evento: o teste de som é realizado pela primeira banda a tocar. Nenhuma outra realiza teste de som, seja quem for, assim como explicou um dos membros da organização, por ser este “ um método que importámos da Europa. Em quase todos estes tipos de eventos, é assim que se faz.”. Como vamos ver mais à frente assim não foi, mas no entanto foram os Anomally a realizar o teste de som no primeiro dia do evento. O espectáculo iniciou com um atraso de 20 minutos e pouco mais de 200 pessoas estariam no Coliseu.
Os Anomally apresentaram-se ao público micaelense com muita pujança e determinados. Um pequeno problema técnico no início do segundo tema levou a uma paragem de 3 minutos, na qual o vocalista poderia ter comunicado com o público, o guitarrista poderia ter tocado alguma coisa… parados é que não deviam ter ficado. Revolveram o problema, apresentaram os seus temas, fizeram uma excelente versão de Arch Enemy (We will rise) e quando iam tocar “I am god”, foram cortados pela organização (ao fim de 20 minutos, a contar com a tal paragem de 3 e tinham direito a 30 minutos), pelo que a actuação dos Anomally ficou a saber a pouco. Excelente, mas curta. Acabou por ser a banda mais prejudicada no evento.
Os Forgodsfake fizeram barulho suficiente para que o público começasse a aquecer. Musicalmente sem grande trabalho a apontar, praticando um metalcore mais que gasto e igual a tantas outras bandas, estes lisboetas serviram de aquecimento ao que viria, mas que poucos esperariam.
Concealment é um nome a recordar de agora em diante. Trio de Lisboa que pratica um death metal/progressivo completamente demolidor. Primeira impressão: faz-nos lembrar Chuck Schuldiner e a parecença vocal e rítmica é arrepiante. Outro ponto de destaque: o baixista tem um baixo de 9 (sim, 9) cordas!!! O som que sai deste instrumento é completamente arrasador e complementa a melodia conseguida por bateria e guitarra que numa teia de ritmos muito interessantes completam-se em temas espectaculares. Foram das melhores surpresas do festival e o tal baixo fica na memória…
Morbid Death fecham a noite a jogar em casa. Banda que dispensa apresentações e que cumpriu na integra o seu papel de cabeças-de-cartaz da primeira noite. Temas desde a Demo “Nomad”, até ao mais recente trabalho de estúdio “Unlocked” desfilaram durante uma hora e meia em perfeita sintonia com o público presente. De parabéns mais uma vez!
De referenciar que ao nível de horários dos concertos, assim como no teste de som, a organização não mostrou grande acutilância. Os Forgodsfake tocaram 40 minutos e os Concealment 45 minutos. Algumas mudanças de palco levaram mais de 15 minutos e alguém ficou com os 10 minutos dos Anomally (que até só pediam mais 3 para finalizar o espectáculo…).
No segundo dia os problemas de horários foram menos notórios, mas presentes. Os Psy Enemy tiveram honras de abrir o espectáculo e muito bem. Já conhecidos do público micaelense, estão numa fase de mudança de sonoridade que parece ter agradado aos presentes. Nota positiva.
Os Stampkase já são habituais em quase todos os grandes eventos do género na região e mais uma vez fizeram o que lhes competia. Como se diz na gíria, partiram a loiça toda! Um pouco mais “corridos” a nível sonoro e com menos paragens e contratempos, os Stampkase estão mais interessantes ao vivo e igualmente pesados. O convidado especial Luís H. Bettencourt tocou em dois temas. Por esta altura já se fazia mosh, slam e alguns stage diving tímidos e de entrada a pés, tal e qual como não se deve fazer. Mas o importante era todos se divertirem e não haverem problemas. Até agora, tudo bem!
Os lisboetas Reaktor já à partida tinham grande parte do público na mão por serem um colectivo já conhecido de todos e com créditos. Banda de um dos membros da organização, Sérgio “Animal”, acabaram por dar um excelente concerto, muito profissional e desafiador para o público que reagiu muito bem. Era só o aquecer de motores para a entrada da banda que realmente todos queriam ver.
Pouco antes da uma hora da manhã os Mnemic subiram ao palco do Coliseu depois de…durante 40 minutos terem estado a fazer teste de som, na pessoa de um dos técnicos da banda. E se se lembram do início da nossa conversa, afinal a organização faltou com a palavra e sempre existem artistas que fazem teste de som, mesmo que isso implique deixar o público espetado a meio de um concerto, quase uma hora, a olhar para um individuo de quase 2 metros de altura a testar todos os instrumentos! Uma falha muito relevante…
Da banda propriamente dita tudo de bom há a apontar e nada de menos bom. Muito profissionais, de som muito consistente, directo e pesado. Riffs e passagens completamente demolidoras e que geraram muito mosh e headbanging. Duas horas do mais pesado arsenal musical a debitar a toda à força a um público que neste sábado era muito superior ao do dia anterior e, claro, mais entusiasta, ou não estivessem em palco os dinamarqueses Mnemic, uma das bandas de metal da actualidade mais respeitadas. No final do concerto e durante o último tema, todos os elementos das outras bandas fizeram invasão de palco o que levou, por natural consequência, a uma invasão de palco geral, acabando a banda por tocar o último tema com várias dezenas de pessoas a encher por completo o palco do Coliseu Micaelense. Apesar de não ser muito recomendado, foi um dos momentos mais bonitos do evento.
Logo depois, uma pequena sessão de música pelas mãos de António Freitas que fechava em beleza este Alta Tensão nos Açores. Todos os artistas que vieram de fora saíram, com toda a certeza, com uma excelente impressão da nossa região. Apesar do público metaleiro ser uma minoria, mostrou ser de grande dedicação e, como se diz, poucos mas bons. A recepção aos artistas foi calorosa e entusiasmante e muitos foram para casa, já com saudades.
De referenciar a presença de várias pessoas de outras ilhas, principalmente da Terceira, que se dirigiram à ilha do Arcanjo propositadamente para estar neste fim-de-semana no Coliseu.
Os parabéns têm de ir, obrigatoriamente, para o Nuno Costa da Sound(/)Zone, pessoa à qual se deve a presença deste evento nos Açores. Sem a sua preserverança e dedicação, nada disso seria possível. A ele todos os aplausos das duas noites.
Nota a cair para a negativa para a organização, a More Agency, que realmente falou e prometeu muito, mas que também falha e comete pequenas injustiças como qualquer outra pequena agência ou produtora. Problemas técnicos que aqui ao leitor pouco devem importar, mas que são os que também fazem um evento correr bem ou mal. Neste caso acabou por correr bem, mas com malhas negras que ao mais atento não passam despercebidas.
Os artistas foram os responsáveis também por este excelente evento e a eles se deve as dores de pescoço e o sorriso nos lábios. A música é assim! Esperamos por mais espectáculos destes. É que o metal pode ser uma minoria, mas os artistas principais aparecem nos eventos. E quando assim é, tudo vale a pena…
in jornal "A União", 26 de Julho, 2007
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