Texto - Miguel Linhares
Já não escrevia aqui desde 2 de Julho de 2008, há dois anos. Deixei de o fazer por necessitar de algum descanso e por motivos pessoais e profissionais. No entanto o bichinho fica sempre cá dentro e por vezes temos mesmo que retomar.
Devo confessar que desta vez nem foi bem por essa razão, mas sim pelo facto de ter visto uma pobre e modesta cobertura jornalística dos eventos musicais das Sanjoaninas 2010, em qualquer meio de comunicação social e/ou na blogosfera. Mas a realidade é que neste país e nesta terra o futebol reina e a sociedade em geral não é culturalmente activa e, por isso mesmo, não somos a Finlândia ou a Suécia.
Como tenho direito a também expressar as minhas opiniões e a relatar o que vi e ouvi – e faço-o há mais de 7 anos neste e em outros meios - é que decidi trazer de novo este espaço à vossa companhia, ou não ocupasse a música uma grande parte da minha vida.
No início das festas esta não era a minha intenção e daí não ter acompanhado todos os espectáculos ao pormenor. Também, como adquiri a pulseira que deu acesso a todos os espectáculos no Bailão, acabei por não estar presente em outros palcos que, pelo que me disseram, tiveram concertos fantásticos, como é o caso do Pátio da Alfândega.
Embora tenha iniciado esta página em jeito de crónica, falarei dos espectáculos com a maior imparcialidade e justeza possível. Até porque embora ouça e admire imensos géneros musicais, tenho as minhas preferências e dentro destas não havia nenhum artista no palco principal das festas, excepção feita talvez aos Goma, logo, mais imparcial é impossível.
Devido ao reduzido espaço aqui disponível terei que sintetizar e poupar nos caracteres. Vamos então por dias:
DIA 19 – FLÁVIO CRISTÓVAM & JAMANDIZEN
Este artista angrense foi vencedor do concurso AngraRock 2009 e do Vodafone Ones to Watch – área Pop – que premeia os melhores novos artistas da comunidade MySpace e tem vindo a desenvolver uma carreira muito interessante captando novas sonoridades um pouco alheias ao público açoriano mais jovem. Acompanhado pelos Jamandizen – Raul Cardoso, João Mendes e Timmy Lima – e por não mais do que duas centenas de pessoas no público, este artista demonstrou grande argúcia na composição dos seus temas, habilidade vocal e capacidade de interpretação ao vivo. Destaque para o tema “The closing doors” que já roda há algum tempo em algumas rádios regionais e para duas covers muito próprias de Xutos e Pontapés e Ornatos Violeta.
O espectáculo durou pouco mais de uma hora e pecou pela pouca afluência de público só explicada pelo facto de os espectáculos dos artistas locais também serem pagos e a dez euros (?!).
DIA 20 – MARIZA
Não podia ser melhor. Estamos a falar da (talvez) melhor artista nacional da actualidade e um dos poucos nomes nacionais que espalha a língua e cultura portuguesa de Los Angeles a Tókio. Sendo já um marco na world music mundial, Mariza captava atenções para o espectáculo em Angra e durante pouco mais de duas horas deu, se não o melhor, pelo menos um dos melhores espectáculos no Bailão. De entre os imensos temas do repertório da artista, “Rosa branca” e o arrepiante “Gente da minha terra” acabaram por captar os maiores aplausos, para além de no final ter interpretado, surpreendentemente, o tema “Come as you are” dos Nirvana. Soberbo.
Acompanhada por músicos de excelência, com destaque para Vicky, que é somente um dos nomes maiores em Portugal da percussão, Mariza primou por uma atitude muito positiva, enérgica e extremamente interactiva com o público que não enchia por completo o Bailão. Cantou em crioulo, cantou temas de Amália Rodrigues e Rui Veloso e falou do seu percurso. Embora seja o espectáculo indicado para um recinto coberto, Mariza acabou por provar a sua polivalência – tal como já o tinha feito no Rock in Rio – e deixou uma certa “saudade”, ou não fosse o fado primariamente isso mesmo!
DIA 21 – RUI VELOSO
É um dos mais conceituados artistas portugueses e vem da velha escola do rock e do blues, completando este ano 30 anos de carreira. Serão muitos os grandes temas do artista para aqui enumerar, no entanto ninguém ficou impune á mestria do artista que dedicou parte do espectáculo aos temas acústicos e às baladas, acabando obviamente por passar pelo rock e pelo blues e oferecendo todos os seus grandes êxitos ao público angrense que, mais uma vez, ocupava o Bailão por metade.
Secção rítmica determinante com destaque para o baixista Zé Nabo, figura grande do rock nacional, decoração intimista e bem conseguida e uma voz que continua quente, segura e com sotaque do norte. Excelente momento das Sanjoaninas 2010.
DIA 22 – JOEL MOURA / GOMA
Tendo sido esta uma das noites menos concorridas pelo público ao recinto do Bailão, as luzes acenderam-se ao som do veterano Joel Moura, acompanhado pela sua banda composta por Kit, Paulo Cunha e Tiago Lima. Som muito característico, inspirado algures na primeira metade dos anos oitenta, este continua a ser um dos artistas mais originais da música açoriana. E não há meio-termo: ou adora-se ou odeia-se. “Rapariga de hollywood” já arrisca ser um dos hinos dos concertos de Joel Moura, artista sempre muito fiel à sua ideologia e à sua percepção de música. Nota positiva também para a componente visual que acompanha todo o concerto.
Os Goma já subiram ao palco do Bailão sagrados vencedores do concurso AngraRock 2010. Nos três anos da sua existência, os Goma já mostraram ser um dos melhores e mais coesos projectos açorianos, tendo mesmo já tocado em variados eventos em várias ilhas. Com uma fileira de músicos muito experimentados e maduros, os Goma tem uma sonoridade de agradável audição, primando a muito boa composição lírica em português, interpretada por uma voz que nos faz lembrar… Sobredotados. Tiveram aqui uma das melhores prestações ao vivo e foram – apesar de santos da casa não fazerem milagres – um dos melhores espectáculos das Sanjoaninas 2010. Tal como Flávio Cristóvam & Jamandizen, sofreram pelo facto do espectáculo ter um custo de dez euros, valor um pouco elevado para artistas locais, apesar da inegável qualidade dos mesmos…
Dia 24 – D´ZRT
Angélico, Edmundo, Vintém e Cifrão já se consagraram como ídolos dos adolescentes portugueses e depois de um breve interregno na carreira voltaram à carga pelos palcos do país. Uma autêntica máquina de fazer dinheiro, somam mais de dez platinas no conjunto dos três álbuns de estúdio. No entanto a noite em Angra foi um pouco fria e sem a receptividade de outros tempos. Os adolescentes não eram muitos, no entanto gritavam imenso. Os temas “Feeling” e “Para mim tanto faz”, dois dos singles mais conhecidos do conjunto, acabaram por ser os pontos altos do concerto com direito a encore, a muita dança, a um excesso de protagonismo de Angélico, aos mortais de Cifrão (um deles não conseguido…) e a uma irreverência geral já habitual. Referência mais que positiva para a secção rítmica baixo/bateria, de grande qualidade e com a predominância do baixista brasileiro a viver em Portugal, Ciro Cruz.
DIA 25 – FLOW 212
Esta recente dupla do Hip-hop nacional deu “um salto” na carreira pela altura do lançamento do primeiro single e videoclip “Tá hot” em que figura a conhecida Rita Pereira. Vagueiam facilmente pelo reggaeton, kuduro e kizomba, mostrando uma variedade de influências. No entanto demonstraram imensa fragilidade em palco, alguma imaturidade musical e pouca cumplicidade, para além do facto de terem um repertório curtíssimo. Actuaram 35 minutos e voltaram para repetir – durante outros tantos 35 minutos – alguns dos temas que já tinham cantado e para uma justaposição de alguns temas conhecidos da house e do hip-hop mundial (o que, como já devem ter adivinhado, passou por Black Eye Peas, como quase tudo actualmente…). E sobre eles está tudo dito.
Com eles cantou uma música o DJ Ângelo Rodrigues (actor de variadas séries, com destaque para Morangos com Açúcar) que entrou em cena ainda durante a actuação dos Flow 212 fazendo não de DJ, mas de MD (mete discos) e MC. Não fosse o repertório vastamente conhecido que escolheu (Black Eye Peas – claro – e David Guetta, por exemplo) e esta noite seria para esquecer, no entanto as pessoas só queriam era dançar. Transições e mixs neste artista têm um conceito diferente.
O termo certo para um deejay que fala ou canta por cima das músicas gravadas – o que ele estava a tentar fazer - é um selector, algo que Ângelo Rodrigues não tem a mínima noção como se faz. Por ser sexta-feira esta foi das noites com mais público no recinto, dançando até de madrugada.
DIA 26 – JAMES
Eram os mais desejados no palco do Bailão. A mítica banda de Manchester teve nos anos noventa a sua época de ouro, criando hinos da pop mundial e enchendo estádios em quase todos os continentes. Depois do regresso em 2008, os James tem actuado por toda a Europa e Estados Unidos promovendo o último curta duração “The night before”.
11 horas em ponto e lá estavam eles arrancando com um repertório recheado de sucessos como “Born of frustration”, “Sometimes” ou “Say something”. Muitos dos temas tocados saíram dos álbuns “Seven” e “Laid”, de 1992 e 1993, respectivamente, os dois álbuns mais bem sucedidos em vendas do colectivo britânico que, curiosamente, nunca conseguiu atingir o nº 1 da tabela de vendas. O Bailão estava quase cheio, aplaudiu e saltou efusivamente com uma banda que se entregou claramente à energia e carinho do público, convidando algumas pessoas a subirem ao palco (e outras convidando-se!) quase no final. Pode-se afirmar que – a par de Paradise Lost e Scorpions – foi dos espectáculos mais profissionais que se presenciou na Terceira.
Apesar da idade já avançada dos membros da banda, a qualidade técnica, a musicalidade e a cumplicidade foram evidentes. Nota mais que positiva para a excelente capacidade vocal que Tim Booth ainda preserva, chegando por vezes – no mínimo - a duas oitavas e sustendo por largos segundos sem vacilar. É assim que se fazem grandes concertos.
DJ´s
Nada a dizer, pois não os houve. Houve animadores. Para além do comentário já feito ao Ângelo Rodrigues, pouco mais há a dizer, embora os parabéns nesta vertente tenham que ir para Albano que, principalmente no sábado, dia 26, fez a animação pós concerto na perfeição passando por sons mais dançantes, pelo rock e pelo pop. Aposta muito fraca nos DJ´s, daí talvez a presença muito reduzida de jovens /adolescentes no recinto que, maioritariamente, gostam destas sonoridades e não de bandas mainstream.
NOTAS FINAIS / OPINIÃO
- Para o primeiro ano com espectáculos pagos nas Sanjoaninas julgo que o balanço deverá ser positivo, embora só a organização possa nos revelar os números e os valores depois de efectuado o relatório. Estou completamente de acordo com esta nova face das Sanjoaninas que só peca por vir tarde.
Só assim se garante bons espectáculos e artistas de nome internacional nestas festividades – sem que haja balanço final negativo, ou pelo menos que haja algum retorno – embora o preço de acesso ao recinto seja exagerado para o ano zero, mais ainda se comparado com as outras grandes festas da nossa ilha que já o fazem há seis anos, com preços mais baixos e com um cartaz muito mais completo, com uma oferta imensa e de maior qualidade de música electrónica, todos os dias que é o que realmente mantém o recinto cheio até de manhã, que vende pulseiras e dá lucro aos bares.
No entanto julgo que o caminho é este e apesar da polémica – normal nestas situações – o povo terceirense vai-se habituar a pagar como acontece em todo o lado.
- Preço elevadíssimo para a pulseira única nos dias dos artistas locais. Dez euros é muito caro, só lá vai quem tem o passe dos oito dias, os amigos e os familiares. Estes espectáculos têm que ter um preço simbólico, senão mesmo gratuito. Isto não ajuda em nada os artistas da casa!
- Noite de S. João excelente no Bailão, muito morna na rua de S. João…
- Boa nota para o PA, sistema luminoso e para a qualidade do som em todos os espectáculos.
- Boa coordenação da segurança no recinto, embora a sua vedação necessite ser repensada e melhorada. Muita gente a ver o espectáculo à borla e a tentar saltar.
- Coloco a questão: Diz-se Box Music, ou Music Box? É porque a mim só um me parece estar correcto e foi o que ouvi e li menos vezes…
in jornal "A União", 5 de Julho, 2010
Devo confessar que desta vez nem foi bem por essa razão, mas sim pelo facto de ter visto uma pobre e modesta cobertura jornalística dos eventos musicais das Sanjoaninas 2010, em qualquer meio de comunicação social e/ou na blogosfera. Mas a realidade é que neste país e nesta terra o futebol reina e a sociedade em geral não é culturalmente activa e, por isso mesmo, não somos a Finlândia ou a Suécia.
Como tenho direito a também expressar as minhas opiniões e a relatar o que vi e ouvi – e faço-o há mais de 7 anos neste e em outros meios - é que decidi trazer de novo este espaço à vossa companhia, ou não ocupasse a música uma grande parte da minha vida.
No início das festas esta não era a minha intenção e daí não ter acompanhado todos os espectáculos ao pormenor. Também, como adquiri a pulseira que deu acesso a todos os espectáculos no Bailão, acabei por não estar presente em outros palcos que, pelo que me disseram, tiveram concertos fantásticos, como é o caso do Pátio da Alfândega.
Embora tenha iniciado esta página em jeito de crónica, falarei dos espectáculos com a maior imparcialidade e justeza possível. Até porque embora ouça e admire imensos géneros musicais, tenho as minhas preferências e dentro destas não havia nenhum artista no palco principal das festas, excepção feita talvez aos Goma, logo, mais imparcial é impossível.
Devido ao reduzido espaço aqui disponível terei que sintetizar e poupar nos caracteres. Vamos então por dias:
DIA 19 – FLÁVIO CRISTÓVAM & JAMANDIZEN
Este artista angrense foi vencedor do concurso AngraRock 2009 e do Vodafone Ones to Watch – área Pop – que premeia os melhores novos artistas da comunidade MySpace e tem vindo a desenvolver uma carreira muito interessante captando novas sonoridades um pouco alheias ao público açoriano mais jovem. Acompanhado pelos Jamandizen – Raul Cardoso, João Mendes e Timmy Lima – e por não mais do que duas centenas de pessoas no público, este artista demonstrou grande argúcia na composição dos seus temas, habilidade vocal e capacidade de interpretação ao vivo. Destaque para o tema “The closing doors” que já roda há algum tempo em algumas rádios regionais e para duas covers muito próprias de Xutos e Pontapés e Ornatos Violeta.
O espectáculo durou pouco mais de uma hora e pecou pela pouca afluência de público só explicada pelo facto de os espectáculos dos artistas locais também serem pagos e a dez euros (?!).
DIA 20 – MARIZA
Não podia ser melhor. Estamos a falar da (talvez) melhor artista nacional da actualidade e um dos poucos nomes nacionais que espalha a língua e cultura portuguesa de Los Angeles a Tókio. Sendo já um marco na world music mundial, Mariza captava atenções para o espectáculo em Angra e durante pouco mais de duas horas deu, se não o melhor, pelo menos um dos melhores espectáculos no Bailão. De entre os imensos temas do repertório da artista, “Rosa branca” e o arrepiante “Gente da minha terra” acabaram por captar os maiores aplausos, para além de no final ter interpretado, surpreendentemente, o tema “Come as you are” dos Nirvana. Soberbo.
Acompanhada por músicos de excelência, com destaque para Vicky, que é somente um dos nomes maiores em Portugal da percussão, Mariza primou por uma atitude muito positiva, enérgica e extremamente interactiva com o público que não enchia por completo o Bailão. Cantou em crioulo, cantou temas de Amália Rodrigues e Rui Veloso e falou do seu percurso. Embora seja o espectáculo indicado para um recinto coberto, Mariza acabou por provar a sua polivalência – tal como já o tinha feito no Rock in Rio – e deixou uma certa “saudade”, ou não fosse o fado primariamente isso mesmo!
DIA 21 – RUI VELOSO
É um dos mais conceituados artistas portugueses e vem da velha escola do rock e do blues, completando este ano 30 anos de carreira. Serão muitos os grandes temas do artista para aqui enumerar, no entanto ninguém ficou impune á mestria do artista que dedicou parte do espectáculo aos temas acústicos e às baladas, acabando obviamente por passar pelo rock e pelo blues e oferecendo todos os seus grandes êxitos ao público angrense que, mais uma vez, ocupava o Bailão por metade.
Secção rítmica determinante com destaque para o baixista Zé Nabo, figura grande do rock nacional, decoração intimista e bem conseguida e uma voz que continua quente, segura e com sotaque do norte. Excelente momento das Sanjoaninas 2010.
DIA 22 – JOEL MOURA / GOMA
Tendo sido esta uma das noites menos concorridas pelo público ao recinto do Bailão, as luzes acenderam-se ao som do veterano Joel Moura, acompanhado pela sua banda composta por Kit, Paulo Cunha e Tiago Lima. Som muito característico, inspirado algures na primeira metade dos anos oitenta, este continua a ser um dos artistas mais originais da música açoriana. E não há meio-termo: ou adora-se ou odeia-se. “Rapariga de hollywood” já arrisca ser um dos hinos dos concertos de Joel Moura, artista sempre muito fiel à sua ideologia e à sua percepção de música. Nota positiva também para a componente visual que acompanha todo o concerto.
Os Goma já subiram ao palco do Bailão sagrados vencedores do concurso AngraRock 2010. Nos três anos da sua existência, os Goma já mostraram ser um dos melhores e mais coesos projectos açorianos, tendo mesmo já tocado em variados eventos em várias ilhas. Com uma fileira de músicos muito experimentados e maduros, os Goma tem uma sonoridade de agradável audição, primando a muito boa composição lírica em português, interpretada por uma voz que nos faz lembrar… Sobredotados. Tiveram aqui uma das melhores prestações ao vivo e foram – apesar de santos da casa não fazerem milagres – um dos melhores espectáculos das Sanjoaninas 2010. Tal como Flávio Cristóvam & Jamandizen, sofreram pelo facto do espectáculo ter um custo de dez euros, valor um pouco elevado para artistas locais, apesar da inegável qualidade dos mesmos…
Dia 24 – D´ZRT
Angélico, Edmundo, Vintém e Cifrão já se consagraram como ídolos dos adolescentes portugueses e depois de um breve interregno na carreira voltaram à carga pelos palcos do país. Uma autêntica máquina de fazer dinheiro, somam mais de dez platinas no conjunto dos três álbuns de estúdio. No entanto a noite em Angra foi um pouco fria e sem a receptividade de outros tempos. Os adolescentes não eram muitos, no entanto gritavam imenso. Os temas “Feeling” e “Para mim tanto faz”, dois dos singles mais conhecidos do conjunto, acabaram por ser os pontos altos do concerto com direito a encore, a muita dança, a um excesso de protagonismo de Angélico, aos mortais de Cifrão (um deles não conseguido…) e a uma irreverência geral já habitual. Referência mais que positiva para a secção rítmica baixo/bateria, de grande qualidade e com a predominância do baixista brasileiro a viver em Portugal, Ciro Cruz.
DIA 25 – FLOW 212
Esta recente dupla do Hip-hop nacional deu “um salto” na carreira pela altura do lançamento do primeiro single e videoclip “Tá hot” em que figura a conhecida Rita Pereira. Vagueiam facilmente pelo reggaeton, kuduro e kizomba, mostrando uma variedade de influências. No entanto demonstraram imensa fragilidade em palco, alguma imaturidade musical e pouca cumplicidade, para além do facto de terem um repertório curtíssimo. Actuaram 35 minutos e voltaram para repetir – durante outros tantos 35 minutos – alguns dos temas que já tinham cantado e para uma justaposição de alguns temas conhecidos da house e do hip-hop mundial (o que, como já devem ter adivinhado, passou por Black Eye Peas, como quase tudo actualmente…). E sobre eles está tudo dito.
Com eles cantou uma música o DJ Ângelo Rodrigues (actor de variadas séries, com destaque para Morangos com Açúcar) que entrou em cena ainda durante a actuação dos Flow 212 fazendo não de DJ, mas de MD (mete discos) e MC. Não fosse o repertório vastamente conhecido que escolheu (Black Eye Peas – claro – e David Guetta, por exemplo) e esta noite seria para esquecer, no entanto as pessoas só queriam era dançar. Transições e mixs neste artista têm um conceito diferente.
O termo certo para um deejay que fala ou canta por cima das músicas gravadas – o que ele estava a tentar fazer - é um selector, algo que Ângelo Rodrigues não tem a mínima noção como se faz. Por ser sexta-feira esta foi das noites com mais público no recinto, dançando até de madrugada.
DIA 26 – JAMES
Eram os mais desejados no palco do Bailão. A mítica banda de Manchester teve nos anos noventa a sua época de ouro, criando hinos da pop mundial e enchendo estádios em quase todos os continentes. Depois do regresso em 2008, os James tem actuado por toda a Europa e Estados Unidos promovendo o último curta duração “The night before”.
11 horas em ponto e lá estavam eles arrancando com um repertório recheado de sucessos como “Born of frustration”, “Sometimes” ou “Say something”. Muitos dos temas tocados saíram dos álbuns “Seven” e “Laid”, de 1992 e 1993, respectivamente, os dois álbuns mais bem sucedidos em vendas do colectivo britânico que, curiosamente, nunca conseguiu atingir o nº 1 da tabela de vendas. O Bailão estava quase cheio, aplaudiu e saltou efusivamente com uma banda que se entregou claramente à energia e carinho do público, convidando algumas pessoas a subirem ao palco (e outras convidando-se!) quase no final. Pode-se afirmar que – a par de Paradise Lost e Scorpions – foi dos espectáculos mais profissionais que se presenciou na Terceira.
Apesar da idade já avançada dos membros da banda, a qualidade técnica, a musicalidade e a cumplicidade foram evidentes. Nota mais que positiva para a excelente capacidade vocal que Tim Booth ainda preserva, chegando por vezes – no mínimo - a duas oitavas e sustendo por largos segundos sem vacilar. É assim que se fazem grandes concertos.
DJ´s
Nada a dizer, pois não os houve. Houve animadores. Para além do comentário já feito ao Ângelo Rodrigues, pouco mais há a dizer, embora os parabéns nesta vertente tenham que ir para Albano que, principalmente no sábado, dia 26, fez a animação pós concerto na perfeição passando por sons mais dançantes, pelo rock e pelo pop. Aposta muito fraca nos DJ´s, daí talvez a presença muito reduzida de jovens /adolescentes no recinto que, maioritariamente, gostam destas sonoridades e não de bandas mainstream.
NOTAS FINAIS / OPINIÃO
- Para o primeiro ano com espectáculos pagos nas Sanjoaninas julgo que o balanço deverá ser positivo, embora só a organização possa nos revelar os números e os valores depois de efectuado o relatório. Estou completamente de acordo com esta nova face das Sanjoaninas que só peca por vir tarde.
Só assim se garante bons espectáculos e artistas de nome internacional nestas festividades – sem que haja balanço final negativo, ou pelo menos que haja algum retorno – embora o preço de acesso ao recinto seja exagerado para o ano zero, mais ainda se comparado com as outras grandes festas da nossa ilha que já o fazem há seis anos, com preços mais baixos e com um cartaz muito mais completo, com uma oferta imensa e de maior qualidade de música electrónica, todos os dias que é o que realmente mantém o recinto cheio até de manhã, que vende pulseiras e dá lucro aos bares.
No entanto julgo que o caminho é este e apesar da polémica – normal nestas situações – o povo terceirense vai-se habituar a pagar como acontece em todo o lado.
- Preço elevadíssimo para a pulseira única nos dias dos artistas locais. Dez euros é muito caro, só lá vai quem tem o passe dos oito dias, os amigos e os familiares. Estes espectáculos têm que ter um preço simbólico, senão mesmo gratuito. Isto não ajuda em nada os artistas da casa!
- Noite de S. João excelente no Bailão, muito morna na rua de S. João…
- Boa nota para o PA, sistema luminoso e para a qualidade do som em todos os espectáculos.
- Boa coordenação da segurança no recinto, embora a sua vedação necessite ser repensada e melhorada. Muita gente a ver o espectáculo à borla e a tentar saltar.
- Coloco a questão: Diz-se Box Music, ou Music Box? É porque a mim só um me parece estar correcto e foi o que ouvi e li menos vezes…
in jornal "A União", 5 de Julho, 2010
1 comentário:
Li primeiro o teu artigo na União, dps é que o vim descobrir aqui. Parabéns e obrigado. Primeiro, pela qualidade e honestidade cáustica. Segundo, pq não fui à maioria dos concertos e, ao ler o que escreveste, até parece que lá estive.
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