segunda-feira, junho 27, 2011

Rock ao norte - Escaleiras 2011


Texto - Miguel Linhares

A 3 e 4 de Junho realizou-se na freguesia da Vila Nova o Festival Escaleiras inserido na programação Onda Cultural daquela freguesia. O projecto Onda Cultural é uma iniciativa da Cooperativa Praia Cultural e da Câmara Municipal da Praia da Vitória com o objectivo de descentralizar actividades culturais pelas 11 freguesias do Concelho.
Objectivo amplamente conseguido com este evento que levou á bonita zona balnear da Vila Nova sonoridades raras por aquelas paragens. Com as condições mínimas para um evento do género, incluindo parque de campismo, ficou talvez só a vontade de ver uma melhor organização a nível técnico e logístico que, claramente, era pobre.
Com o propósito de promover os projectos locais, foram oito os projectos a subir ao palco – que sofria de uma certa inclinação devido á irregularidade do local onde foi montado – com vontade de animar as noites que foram um pouco frias, mas agradáveis.
A abrir as actividades, e com algumas dezenas de pessoas a assistir, sobem ao palco os Stone Carved Soul que fizeram as Escaleiras recuar no tempo com o grunge dos anos 90. Algumas falhas bem notórias, principalmente a nível vocal e rítmico. Três originais e duas covers marcaram o seu setlist do qual se destaca a cover de Enter Sandman com especial enfoque para o guitarrista solo tendo reproduzido praticamente na perfeição o solo deste emblemático tema.
Já se tinha notado no primeiro conjunto, mas aqui seria mais evidente a fraca qualidade do som do Escaleiras 2011. Mais pesada a banda, mais dificuldades para os técnicos. Os Somnium foram das bandas mais prejudicadas neste capítulo, ainda assim apresentaram um leque de temas originais que começam a fazer parte do repertório do metal açoriano, finalizando com uma cover de Sepultura, Territory, tendo como convidado o vocalista dos Eyes for the Blind. Melhoram a cada espectáculo.
A terceira banda da noite vem de uma escola diferente e destoava um pouco dos restantes conjuntos influenciados por sonoridades mais recentes e mais rápidas. Os Vanguarda 3.0 são um projecto com longos anos em diversas festividades e tem nos seus membros originais senhores que andam na música há tantos anos, quantos alguns dos outros músicos e membros da plateia tem em idade. Covers dentro do pop rock, bem conseguidas, com a maturidade necessária e sem reparos a assinalar.
A finalizar a primeira noite do Escaleiras 2011 estiveram os North Stamp, colectivo que viajou dos Altares – aparentemente, laboratório de muitos e bons músicos – e que deixou uma impressão positiva na estreia ao vivo. Variadas covers fizeram parte do repertório, passando por Foo Fighters e Danko Jones, mas a nota mais que positiva vai para a secção rítmica e para o seu baterista que surpreende de concerto para concerto com a sua precisão rítmica!
Nota de fecho da primeira noite: noite de música agradável, mas a qualidade de som que saía do PA “doía” um pouco…
No dia 4 inicia-se o espectáculo com um extra no cartaz, uma jovem chamada Kate Millery que tocou três temas, acompanhada pelo seu violão, fazendo sobressair a sua técnica vocal bem colocada e de entoação agradável, apesar de ser “copiada”, no seu todo, da Amy Lee. Mas não deixou de ser agradável ver esta jovem tocar e cantar, ficando a curiosidade de ver o desenvolvimento e o amadurecimento da sua musicalidade.
Segue-se o projecto Eyes for the Blind, um conjunto que nos poucos concertos que deu ao vivo demonstrou uma banda muito coesa e dinâmica. Muita atitude em palco, boa presença de quase todos os elementos, bons temas originais e, a finalizar, uma cover de Sepultura – parece que 10 anos depois começa a ser “moda” novamente – no caso Roots Bloody Roots. Cada vez mais agradáveis de se ver ao vivo.
Mais um projecto recente sobe ao palco das Escaleiras, no caso os Justiça da Noite. Apesar de mostrarem ainda muita inexperiência, o primeiro ponto positivo vai para o facto de cantarem em português. Rock muito cru, sujo e por vezes rápido marcaram a actuação deste colectivo que teve tempo de tocar algumas covers, sendo a mais conhecida a de Metallica, For Whom the Bell Tolls.
Os Nomdella são já conhecidos do público local e destilaram metal puro e duro, como é hábito. Rápidos, pesados, criativos e muito interactivos com o público, fizeram das suas sonoridades das mais aplaudidas do Escaleiras 2011. Cada vez mais “colados” ao metal da nova geração e dos anos 00, primam pela boa técnica dos músicos, da melhorada prestação do vocalista e de muita presença em palco.
A noite e o evento encerram com os Anomally, actualmente o projecto terceirense mais consolidado dentro das sonoridades mais pesadas. Muito haveria a dizer caso este tivesse sido um concerto diferente do habitual, o que não foi o caso. Directo, pesado, tecnicamente evoluído, muito rápido e, ainda assim, melodioso. Cada vez que sobem ao palco mantém a precisão que lhes é conhecida e demonstram, nos temas novos, que a criatividade não se esgotou. Sendo dos setlist mais compridos deste evento, tocaram alguns temas novos e correram o seu álbum de estreia quase todo, com tempo para a sua versão de Unequal Rights, dos Morbid Death e duas covers, Dimmu Borgir e In Flames. No encore tocam o tema que abriu o seu espectáculo, From Lust to Screams.
Nota de fecho da segunda noite: noite de música muito agradável, mas a qualidade de som que saía do PA “doía” bastante…
Resumindo, deve-se saudar a boa vontade dos elementos da organização e produção – facto repetido por diversas vezes por elementos de algumas das bandas – pela coragem de fazer um evento do género, num local não habituada a estas andanças, mas que se provou muito adequado.
Boa entrega dos muitos músicos amadores que actuaram ao vivo e que fizeram, afinal, o Escaleiras 2011. Esperamos por nova edição em 2012…?

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