quarta-feira, julho 06, 2011

Review Angrarock 2011


Texto - Miguel de Aguiar / Foto - Catarina Vieira

Doze anos já se passaram desde a primeira edição daquele que é o mais importante concurso de música moderna nos Açores. Esta 12ª edição contou com a participação de dez bandas, nove da ilha Terceira e uma de S. Miguel.
Justiça da Noite, Kate Millery, The Doit, Zero a Zero e Art Capital foram as 5 bandas presentes na primeira eliminatória que decorreu no passado dia 9 de Junho. Novatos nestas andanças, os Justiça da Noite apresentaram-se com 3 temas em português fazendo lembrar um pouco Xutos e Pontapés, com algumas falhas técnicas a nível de percussão, a banda demonstrou algum nervosismo natural de uma banda que ainda está numa fase embrionária.
Numa vertente bem mais calma seguiu-se Kate Millery fazendo-se acompanhar da sua viola acústica e de uma grande claque de fãs, esta jovem interpretou três temas de sua autoria, a pouca variação de tom da sua voz foi o ponto fraco da sua prestação.
O que acontece quando vários amigos de universidade com gosto pela música se juntam? Formam os The Doit. Com algumas atuações já dadas anteriormente como banda de covers estes participam no concurso com 3 originais de sua autoria em que vão buscar as mais variadas influências de cada membro do grupo desde o Heavy Metal ao Rock mais comercial. Uma prestação da qual destaca-se os temas “Ashtray of Memories” e “Liliith”.
Zero a Zero foram uma das surpresas da noite. Hugo Ferreira e João Ribeiro, dois multi-instrumentalistas apresentaram 3 temas bem distintos a quem esteve presente no Centro Cultural, “Morte ao Romantismo”, “Gastas Palavras” e “Como te Impressionar” variaram não só em estilo musical como nos instrumentos tocados por Hugo Ferreira tendo demonstrado habilidades em instrumentos como bateria, baixo e ainda voz. “Como te Impressionar” foi sem dúvida o tema mais bem conseguido tendo mesmo impressionado os presentes pela originalidade apresentada neste concurso, em tom de paródia o tema foi apresentado e explicada a razão pela qual optaram pelo nome do projeto e ainda a razão por estes terem gravado um video em que os dois aparecem a tocar bateria e teclado acompanhando assim a sua prestação ao vivo do seu tema mais alegre.
Para finalizar a noite da primeira eliminatória estava reservado, sem dúvida, o projeto que mais curiosidade deixava. Art Capital junta membros bem conhecidos do nosso panorama musical, Bruno Moniz na guitarra (Lithium), Freddy Duarte no baixo (Manifesto), João Cardoso na bateria (Resposta Simples) e Marta Inácio na voz (ex-Penumbra) criaram tudo menos aquilo que seria o óbvio. Rock Alternativo fazendo lembrar bandas como The Gathering ou até mesmo os nacionais Cinemuerte foi o que este projeto apresentou a quem esperava algo um pouco diferente. Músicas melancólicas em que o baixo teve preponderância, com riffs de guitarra simples e uma bateria com laivos progressivos serviram de base para a voz melodiosa de Marta Inácio acompanhada ocasionalmente pela voz de Bruno Moniz em” Black Cats” e “Flatline”.
Para a segunda eliminatória estavam guardadas as bandas de peso como Eyes For The Blind, Nomdella e Beyond Confrontation ficando ainda para ouvir a banda vinda da ilha vizinha S. Miguel os Crossfaith e o já habitual Joel Moura.
O Groove balanceado dos novatos Eyes For The Blind não passou indiferente a quem esteve presente na segunda eliminatória e foi com temas como “Beneath a Bleeding Sky” e “Buried by God” que o quinteto marcou a sua prestação.
Quem tem acompanhado o Angra Rock desde a sua primeira edição sabe que Joel Moura é um nome incontornável, quer se goste ou não, e é uma presença assídua deste concurso e desta feita veio acompanhado de João Lemos na viola acústica. Um início instrumental que praticamente passou despercebido do público presente seguindo-se de imediato para “Zamfir” e “Indiscutivelmente” dois temas que mantém o espírito intervencionista de Joel Moura.
Numa vertente bem mais pesada apresentaram-se os Nomdella com três novos temas em que mostraram novas influências, a bateria progressiva e riffs de guitarra a lembrar os mestres do Death Metal progressivo Opeth são as mais notórias alterações no som desta banda que já conta com alguns anos de experiência tendo já inclusivé arrecadado o segundo lugar neste mesmo concurso no ano de 2008. Temas longos, incluindo um instrumental com cerca de 9 minutos, foram o ponto fraco da sua prestação para um concurso.
Após a actuação dos Nomdella subiram ao palco os micaelenses Crossfaith, banda com 7 anos de existência e um álbum na sua bagagem os Crossfaith deslocaram-se à cidade património mundial com vontade de arrecadar o primeiro lugar e trouxeram 3 fortes trunfos na manga. “Travel Stop” foi o primeiro mostrado ao júri, um tema catchy com um refrão orelhudo capaz de fazer sucesso nas rádios, de seguida “So Far Yet So Close” foi o tema com que os micaelenses embalaram o Centro Cultural e para finalizar estava “Grave Diggers” dedicado ao clube de motards de S. Miguel, uma malha com cheiro a anos 60.
Para finalizar a noite da segunda eliminatória estavam reservados os Beyond Confrontation, antigos System Failure mantiveram o mesmo estilo musical alterando apenas o guitarrista contando a banda com Victor Alves acompanhando Artur Reis. As letras apresentadas no projetor fizeram o público presente abstrair-se um pouco da atuação da banda no entanto foi possivel ver que Artur Reis continua a dominar o seu instrumento chegando até mesmo a brincar com ele no tema “Veritas vos liberabit”. A actuação do quinteto ficou marcada ainda pelo esforço extra por parte do seu baterista João Direitinho manifestamente lesionado.
Após a actuação das bandas da segunda eliminatória o júri constituido por Pedro Madaleno (músico e professor), Tiago Alves (músico) e Paulo Sousa Ávila (músico e artista plástico) reuniu para decidir as cinco finalistas. Crossfaith, Beyond Confrontation, Nomdella, Art Capital e Eyes For The Blind foram por decisão do júri os cinco projetos que mais se destacaram. Atuando pela ordem que foram apresentados, os finalistas estiveram todos ao nível das eliminatórias. O à vontade em palco por parte de bandas como Crossfaith foi o contraste do nervosismo apresentado por bandas menos experientes como os Eyes For The Blind, a adesão do público durante a atuação dos Nomdella que incentivaram aos presentes para se juntarem ao palco para um Headbanging contrastou com a reação um pouco amena em relação a projetos diferentes como Art Capital.
No geral as suas atuações foram ao mesmo nível das duas eliminatórias que serviram para escolher os cinco finalistas tornando esta uma final bem disputada. Após a grande final houve tempo para recordar os vencedores da edição de 2010 do concurso Angra Rock, os Goma. Cerca de 30 minutos foi o tempo que o júri levou para tomar a grande decisão de quem seria este ano o vencedor desta 12ª edição do concurso e no 3º lugar ficaram os Nomdella, no 2º os micaelenses Crossfaith e os grandes vencedores do concurso Angra Rock de 2011 foram os estreantes Eyes For The Blind.
Para além do prémio em valor monetário de 500, 1000 e 1500€ respectivamente, para cada vencedor está guardada a presença no festival Angra Rock que após um ano de interregno está de volta ao cartaz cultural de Angra do Heroísmo, este ano com os portuenses GNR como principal atração juntando-se assim a nomes como Punkada!, Poeta Urbano e Silver Star entre outras outras duas bandas ainda por anunciar.
Esta trata-se de uma iniciativa da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e Culturangra, com produção da Azor Waves.

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