Arrepio-me com o burburinho quem fazem nesta época do ano! Tem que ser tudo colorido e enfeitado, quando morrem centenas de crianças diariamente vítimas da fome, doença, angustia, tristeza e indiferença? Se calhar estou a entrar num tema provável se ferir as susceptibilidades de todas aquelas pessoas que agora preparam-se para a festa, emaranhados em compras coloridas de notas…nem vou falar mais nisso, mas era suposto haver mais um pouco de bom senso e argúcia não só nesta época do ano, mas durante todos os dias do mesmo! Se calhar até eu cometo o erro de me esquivar aos denegridos da sociedade, pois como ocidentalizado que sou, revejo-me em alguns dos defeitos da Aldeia. Viramos costas à realidade e entramos num sonho Natalício cheio de chocolates e de embrulhos indiferentes ás asneiras que cometemos conscientemente. Digo conscientemente, mas até se calhar estou a dizer alguma asneira, para a maior parte das pessoas, consciência deve ser um daqueles termos que é necessário recorrer a um dicionário para entender a sua engrenagem. Mas nem tudo vem nos dicionários e o dinheiro não comprará a inteligência. Fosse a inteligência escrava do dinheiro e mesmo assim nem todos a teriam! Discriminação, ainda assim! Mas por a inteligência ser na sua maioria inoperante, esta sociedade “bem vestida” que julga ser o exemplo a seguir, rege-se por regras que não podem ser alteradas, por pena de os infractores serem diversificadamente rotulados e empacotados. Aqui sim, e deixando as “politiquices” de lado, entra o mundo da música moderna e todo o movimento agora chamado de “urbano”, que facilmente é varrido da paleta dos bons costumes. É isto que me enerva profundamente! Não é só ignorarem os pobres, os doentes, os famintos, os mendigos e outros, mas é também quererem pensar pelos outros e mandarem nas suas vontades! E morrerão afogados nas dívidas que criaram e nos embrulhos laçados que um dia lhes deu uma suposta alegria. É o nosso mundo, a nossa ilha, a nossa cidade… Esta é deveras uma triste realidade que passará o ano connosco.
A todos umas boas festas, independentemente das vossas crenças ou religiões, pois o Natal, acima de tudo, é Paz, amizade e compreensão e que entrem no ano de 2005 ainda com mais força para tentarem mudar este mundo de vis contradições. Manifestem-se pelos vossos ideais!!!
in Jornal "A União" 23 de Dezembro de 2004
Tem uma boa posse!
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