quarta-feira, janeiro 04, 2006
Concurso guitarrista Metalicidio - Bar PDL @ Ponta Delgada
Rodrigo Raposo, vencedor do concurso
Aguardado com muita expectativa, o concurso de guitarristas promovido pelo site açoriano www.metalicidio.com efectuou-se no passado dia 28 de Dezembro no Bar PDL, em Ponta Delgada, e, diga-se, foi um verdadeiro sucesso. Tal como já vinham demonstrando com o seu site, João Arruda e Rui Melo conseguiram prestar mais um serviço de ouro ao metal açoriano, desta feita com a realização de um evento musical. O concurso guitarrista Metalicídio vem no seguimento do crescimento que o site tem vindo a registar e à ambição do mesmo em fazer cada vez mais pelo metal açoriano. Se de coerência, inteligência e credibilidade o site já tinha dado provas, então os seus mentores conseguiram agora dar um passo de gigante a nível de promoção e, acima de tudo, rumo a uma imagem que se quer forte. Sendo assim, todo o evento esteve à altura das expectativas e a promoção feita atempadamente aguçou, e de que maneira, o apetite a todos os amantes do som eterno por estas paragens. Por esta razão, e até porque há muito não se via uma iniciativa desse género em S. Miguel, o bar PDL registou uma enchente memorável, com os números a registarem cerca de meio milhar de pessoas. Se é verdade que isto pode tornar o ambiente sufocante num bar com aquelas características, a verdade também é que o evento foi suficientemente interessante para que se justificasse a presença de todos nas cerca de duas horas e meia em que decorreu o espectáculo.
Ao todo podemos escutar 9 concorrentes, sendo que três dos inscritos inicialmente acabaram por desistir. O mote foi dado por João Andrade [Septic Miracle], acompanhado por um baixo, que executou dois temas algo sóbrios tecnicamente, e uma cover de Ozzy Osbourne – “Crazy Train” – que arrancou logo efusivas reacções de alguns presentes da “velha guarda”.
Com uma breve pausa para troca de músicos e instrumentos [situação de prezar pelo facto de nunca ter prejudicado a dinâmico concurso], entra logo de seguida Luís Cordeiro. Acompanhado de João Carreiro no baixo, Luís Cordeiro acabou por ter no seu trunfo [um meddley de Metallica] o seu ponto mais comprometedor. Para além da falta da ligação em alguns trechos, os erros foram demasiados e o nervosismo era patente. De qualquer forma, o público vibrou em algumas partes mas, para quem toca Metallica, o risco de se perceber os erros são maiores, e a exigência não deixa de ser muito grande.De seguida, André Contente [ex-Schism], entra a matar com uma introdução muito técnica e debaixo de um coro de incentivos. André mostrou tapping muito bem executado e dois temas originais envoltos num aroma neoclássico que cativou muito os presentes. Para finalizar, André executou uma versão de Vangelis. Sempre destemido e muito confiante, André teve também um acompanhamento muito digno de Ricardo Cabral, membro que aliás conhece muito bem da sua antiga banda.Seguiu-se Nelson Félix, mais quatro dos membros que o acompanham nos black metallers Summoned Hell. Com um dedilhado muito melódico abre um dos seus temas, passando logo de seguida para velocidades mais altas. Nelson demonstrou boa técnica, embora tenha falhado alguma notas, mas acabou por ser a banda que o acompanhou, nomeadamente o baterista, quem contribuiu para que os seus temas soassem muito confusos por vezes.Após Nelson entra em cena Rodrigo Raposo, conhecido músico dos Massive Sound Of Disorder. Quem já o ouviu e conhece o metal progressivo que a sua banda pratica, já esperava uma prestação altamente técnica. Aliás, Rodrigo partia já para este concurso como um dos favoritos à vitória. Sendo assim, foi só uma questão de Rodrigo pegar na guitarra e se começar a assistir a um festival de pura arte. Uma verdadeira lição de como tocar bem guitarra e a prova de que este é, sem dúvida, um dos melhores guitarristas dos Açores. O que Rodrigo demonstrou é digno de um profissional de renome, e adivinha-se por isso um futuro brilhante à sua frente. O que Rodrigo executou não deixaria um Petrucci, um Malmsteen ou um Satriani envergonhados, e para nós foi uma mera questão de ficarmos de olhos fixos no braço da sua guitarra e tentar acompanhar aquele espectáculo deslumbrante. Executou todo o tipo de técnicas que se pode efectuar com uma guitarra e com uma segurança impressionante, para além de que a sua linguagem corporal deixa antever uma verdadeira alma artística por detrás daquela guitarra. E ainda, como cover, um exigentíssimo tema do guitarrista supersónico Michael Angelo Batio... Só por aí já podemos ver aonde vai o talento de Rodrigo. Uma natural e merecida onda de aplausos fechou a sua actuação.Seria agora difícil superar um momento daqueles, e até adivinharia uma certa frustração nos músicos que se lhe seguiram. Mas para provar o contrário, e para provar que os concursos também existe para quem se quer divertir, António Neves e André Gouveia, ambos In Peccatvm, revelaram uma maneira inteligente de criar uma alternativa ao cariz normalmente muito técnico e sério que marca este tipo de eventos. “A Fúria do Pai Natal”, um tema embrulhado num espírito rock’n’roll muito interessante, deliciou os presentes. Muita atitude, principalmente do baixista André Gouveia que, inclusive, soltou a sua farta cabeleira e num valente headbanging mostrou que o rock é mesmo uma questão de espírito. E assim, os dois músicos divertiram e divertiram-se, numa prestação que eu diria quase feita para atacar o prémio criatividade.De seguida, o desconhecido Eduardo Furtado subiu ao palco com o seu teclista para uma entrada calma e contida. Segui-se um tema rock’n’roll, bem preenchido pelas teclas, quase em regime swing, mas a monotonia fez-se evidenciar com o passar do tempo. Até o nervosismo não ajudou, já que Eduardo deixou cair duas vezes a palheta.Muito acarinhado pelo público, que gritava “Picoto”, segui-se a prestação de Luís Silva, músico bem conhecido por ter feito parte dos Dark Emotions e actualmente figurar nos Reborn. Luís brindou-nos com uma magnifica malha em tudo inspirada nos geniais Meshuggah, mas que nem por isso deixou de ser interessante. A mestria e a coesão com que Luís e João Freitas executaram os mais difíceis compassos rítmicos só prova da sua capacidade técnica e particularidade ao fazer música. Logo de seguida, e como que se a surpresa já não fosse muita, Luís mune-se da sua viola acústica e executa uma belíssima balada. A serenidade na sua face foi um fiel reflexo daquilo que estava a tocar e a sentir.Para terminar, e para provar que temos músicos empenhados em fazer coisas diferentes, tivemos Ruben Frias apenas acompanhado por um sample feito pelo conhecido DJ Varela, numa mistura electro/industrial rock tão pouco usual na região. Ruben acabou por ir demonstrando algum nervosismo ao longo do concerto, com algumas falhas de execução sucessivas, ao que fomos percebendo que, em parte, se devia a problemas técnicos. Contudo, fica a impressão de que o músico ainda sente alguma insegurança no que faz mas, mesmo assim, foi capaz de apontamentos muito bons.Terminada a tarefa dos músicos, agora cabia ao júri fazer o seu papel. E como premiados o júri contemplou, com naturalidade, Rodrigo Raposo – com o prémio “Técnica” – e Luís Silva com um merecido prémio de “Criatividade”, uma vez que foi o único que abordou a componente pesada e rítmica da guitarra e também porque usou a viola na sua natureza acústica. Como prémios, cada um levou um trofeu Metalicídio, uma guitarra Jackson JS30 e um cheque de desconto de 50 euros nos estúdios Nebur Records. No saldar deste evento, ficamos felizes por constatar que temos muitos e excelentes músicos nas redondezas e que o Metalicídio começa a tomar um papel de fulcral importância no desenvolvimento do nosso panorama heavy. Que os músicos e a equipa do Metalicídio continuem a transportar a chama do Metal da forma tão forte e convincente como têm feito até agora. Que venha o próximo concurso.
Texto de Nuno Costa - www.soundzone.blogspot.com
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