Texto - Miguel Linhares
No passado dia 23 de Fevereiro fez 20 anos que Zeca Afonso partiu, com aviso prévio, pois a doença consumia-lhe lentamente (lembrei a data aqui no blog).
Nessa altura, em 1987, tinha eu 9 anos. Não me lembro de ver a notícia da morte dele, acho que nem sabia quem ele era, apesar de lá em casa haver alguns discos, fotos, cartazes e outras coisas dele. Hoje em dia existem ainda mais, pois sou um apreciador, tanto do músico, como do poeta, como do revolucionário (encapotado pelas metáforas e eufemismos). Antes de mais, aprecio todos aqueles que lutaram ou eram contra o regime bafiento e fascizante de Caetano e Salazar. Em alguns casos, como o de José Afonso, a mestria literária e subtileza, faziam-no desviar-se de encontros com o “lápis azul” ou com os dedicados agentes da PIDE-DGS. Ainda assim, nem sempre se safou!
Focando só o aspecto musical do artista é por demais evidente que estamos perante um homem que vivia e respirava música de um modo diferente e muito mais sentido da maioria. Apesar do cariz revolucionário e de intervenção, ele sabia passar para o papel os sentimentos e cantava-os como ninguém. Apesar de originalmente cantar fado de Coimbra, tornou-se um marco importante da canção de revolução, da voz do contra, do anti sistema.
Tocou com muitos músicos de excelência, destacando eu, talvez, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Carlos Alberto Moniz, Rui Pato e Sérgio Godinho. Entre baladas, fados e outras expressões musicais, fica o registo de “Grândola Vila Morena”, o sinal de arranque para as tropas na madrugada de 25 de Abril, a música que associamos à revolução dos cravos, um tema que nos enche a alma… mesmo que não sejamos de Grândola!
in jornal "A União", 02 de Março, 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário