Texto - Miguel Linhares
Já não se vê muito, mas ainda existem alguns da nova geração que cultivam-se e tentam comprender realmente a música e sua história. Não pretendo tirar mérito aos que ouvem actualmente sonoridades electrónicas e mais plásticas, mas quem aprende, lê, ouve e compreende sonoridades que despontaram muito antes deles próprios terem nascido, nota-se um interesse superior ao mais comum.
Conheci uma pequena banda de jam em Ponta Delgada, constituída por jovens com 17, 18 anos. Um deles, o guitarrista, é brasileiro e um verdadeiro conhecedor de música dos anos 60 e 70, essencialmente, e do instrumento que toca. Antes de mais é um executante de excelência. Depois, ele realmente conhece a música (rock, blues, jazz…) os seus artistas, movimentos, eras. Nada fica ao acaso, deverão ter sido muitas horas a ler sobre isto que tanto o apaixona. Para uma pessoa que nasceu já no final dos anos 80, como ele, é muito interessante saber que existe um fascínio tão grande por sons mais nobres e que existiam vinte e tal anos antes dele sequer nascer! Não se deixou levar pelos novos sons, criados por máquinas, mas também pelos novos sons dentro do rock, que esses também não o cativam muito. Admira os criadores, não os seguidores, apesar de ele próprio ser um seguidor. O que quero dizer com tudo isto é que fiquei admirado por ver uma pessoa 10 anos mais nova que eu com tanto conhecimento sobre música, com tanto interesse e, ainda por cima, com uma técnica já muito desenvolvida! Não vejo isto hoje em dia, logo é muito refrescante saber que a juventude não vai toda na mesma direcção. Existem excepções. Grandes excepções!
in jornal "A União", 21 de Março, 2007
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