sexta-feira, janeiro 20, 2012

Música para mim é o mesmo do que para ti?!

Texto - Miguel Linhares

Não será demais abordar um tema que é recorrente, todos os anos, por esta altura: a falta de eventos, o adormecimento dos promotores e gerentes de espaços nocturnos.
Como sempre a cavalgada dos Dj´s e Md´s é triunfante, com muita sorte para estes, pois para além de haver vários espaços e eventos de electrónica, continua apesar de tudo a ser um género mainstream entre os mais jovens. Mesmo subdividindo esta categoria nas suas várias vertentes.
Quanto a conjuntos, principalmente de gente nova e com novas ideias, caso não sejam de música popular, brejeira ou a aclamada “pimba de coreto”, as portas estão meio fechadas à criatividade e à originalidade, sendo que a maioria dos projectos existentes na ilha, actualmente, categorizam-se facilmente no muito vasto género rock, desde o pop até ao metal.
Aqui também existem algumas excepções, poucas, de alguns iluminados – quase todos bem formados – uns de idade mais respeitável, mas a maioria cúmplices e camaradas dos “pátios de liceu”. Gente que fala muito, mas diz pouco. Gente que por alguma razão, a meio de um percurso curto e pouco produtivo a nível de criatividade, utiliza um snobismo e cobardia que conseguem sobrepor-se à qualidade técnica… o que em alguns casos seria difícil de alcançar. Mas conseguem-no!
Mas como dizia, fora estas poucas excepções bem apadrinhadas, o cenário é negro para o camarada de 15, 18, 22 ou 35 anos que formou uma banda, até concorreu ao AngraRock e não se safou mal, criou vários temas originais – com pés e cabeça – com uma mensagem positiva, até interventiva, junta-se com os amigos várias vezes por semana e tem um amor incondicional à música. Para este músico, as portas são pequenas e não passam todos. Para pisar um palco grande – desprestigiante para alguns “entendidos” da música – como as Sanjoaninas ou as Festas da Praia, será necessário enquadrar-se num subgénero que não fuja ao habitual.
Aqui a culpa também é das rádios locais que não fazem por diversificar, por educar os ouvidos. Fora os artistas que estão nos top´s ou os dos anos oitenta – que estão muito na moda – todo o restante cenário musical é um grande blur incógnito. E daí aparecem os rótulos: ou é música influenciada pelo consumo de estupefacientes, ou é música de satanás, ou é música de incompreendidos e desalinhados, ou é… “o que é aquilo, é música?”.
Fico agradado de ver três ou quatro espaços nocturnos na Terceira que contradizem quase tudo o que afirmo e que realmente vão apostando na diversidade, sem descriminação. Se formos a ver bem, alguns deles primam por serem os mais frequentados e, acima de tudo, os mais bem frequentados, vá-se lá saber porquê…

in jornal "A União", de 26 de Outubro, 2011

Sem comentários: