sexta-feira, janeiro 20, 2012

Projectos a seguir

Texto - Miguel Linhares

No início dos anos 90 eram às dezenas, nem me lembro do nome de todas as bandas que saíram dos pátios do Liceu de Angra. Da Praia também surgiam alguns projectos interessantes que ocasionalmente cruzavam-se em palco com os de Angra e vice-versa. A música feita e/ou assistida por computadores ainda não era uma realidade, por isso o destino era aprender a tocar um instrumento ou a tentar a sorte com a voz.
Num plano exterior ao Liceu - malta na altura já na casa dos vinte, trinta anos - alguns projectos transitavam dos anos 80, outros surgiam pela mão desses mais experimentados da música rock ou pop. Faziam-se concertos fantásticos, alguns com milhares de pessoas. Havia o gosto pela música e esta era a geração rasca – não à rasca, como a actual – que ouvia, estupefacta, as novas sonoridades de Seattle e absorvia a irreverência de Kurt Cobain.
A par destas sonoridades, havia uma falange metaleira muito considerável. Aos novos sons de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Smashing Pumpkins ou Alice in Chains, juntava-se os acordes de Metallica, Megadeth, Paradise Lost, Sepultura, Pantera, Machine Head ou até mesmo a “arrogância” sonora dos Napalm Death.
Na segunda metade dos anos 90 e no início dos anos 00, dá-se um declínio vertiginoso nesta criatividade dos jovens e – afirmou-me um amigo músico um pouco mais novo do que eu – que por volta do ano 2000, 2002, a única banda que havia no Liceu de Angra era a dele, uma banda de punk/hardcore. Nesta altura reinava obviamente as sonoridades electrónicas, os Dj´s, os Md´s, os pseudo-Dj´s e os menos-Dj´s, todos a fazer as delícias da malta nova nas pistas de dança. Sem querer denegrir a criatividade que um humano consegue ter assistido por uma máquina, creio que perdeu-se a mística da banda de garagem, da confraternização, da amizade e da descoberta musical em conjunto.
Esta foi uma altura menos fecunda em projectos, em novidades e que só sobrevivia devido à teimosia dos tais jovens do início dos anos 90, agora já na casa dos vinte, trinta anos, que ocasionalmente apareciam com um projecto novo, ou ousavam organizar um evento para juntar músicos. Mas tudo isso estava prestes a mudar. De 2005 para cá tem vindo a surgir projectos interessantíssimos e de variadas correntes musicais, algumas nunca exploradas na Terceira. Melhor ainda, muitos destes projectos liderados por jovens com menos de 20 anos.
Vem isto a propósito do excelente trabalho de Flávio Cristóvam com o novo projecto October Flight que faz notícia nesta edição de Musicofilia. Mas não está sozinho e muitos tem sido os músicos a sair de garagens e a aparecer ao vivo, por vezes a concorrer - ombro a ombro - com os tais jovens dos anos 90, agora na casa dos trinta e a caminhar rapidamente para os quarenta. João Félix, Eyes for the Blind, Mufasa, Kate Millery e tantos outros, são nomes para ir decorando.
Os tais jovens dos anos 90, felizmente, não tem estado parados neste últimos 6, 7 anos e para além de projectos que já são referência, é agradável ver novos projectos a surgirem, por vezes tendo nas suas fileiras duas gerações diferentes de músicos. E coisas interessantes terá o rock terceirense em 2012, penso eu.


in jornal "A União", 19 de Janeiro, 2012

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