Texto - Miguel Linhares
Nos Açores, já sabemos, as dificuldades geográficas condicionam-nos imenso o trabalho cultural e criativo. Para as agências e promotores de espectáculos acresce sempre a um evento o custo absurdo das passagens aéreas. Viajar de Lisboa para os Açores é muito mais caro do que viajar para Londres, Amesterdão, Budapeste, Roma… Vivemos em Portugal, mas num Portugal secundário, numa zona ultra periférico de um país, já de si, periférico.
No entanto – e combatendo este “choro” habitual – existem artistas que mesmo sem saírem da região dão passos importantes e fazem chegar o seu nome além fronteiras. Na área popular, ou mais erudita, isso é mais fácil. Susana Coelho é um bom exemplo. Zeca Medeiros outro. Mais haveria. Mas quando falamos de música – ou arte – mais alternativa as coisas complicam-se. Fala-se de minorias culturais e menos aceites pela sociedade em geral. O rock é exemplo disso.
À parte destas “regras”, existem artistas que fazem com que essas dificuldades lhes passem ao lado. Sendo até uma das bandas que pratica sonoridades mais pesadas na região, os micaelenses Morbid Death são o perfeito exemplo de como se consegue alcançar algo com vontade, dedicação e muita persistência! Com vários trabalhos editados, 25 anos de carreira e sempre sem deixarem a ilha, conseguiram um certo estatuto a nível nacional e mesmo internacional, em alguns meios mais “underground”. Nos Açores, mesmo os mais distraídos, já ouviram falar no nome, sabem que existem e/ou conhecem-lhes a história.
Mais recentemente outros jovens tem vindo a tentar apanhar o mesmo barco que os Morbid Death apanharam – embora este em tempos muito mais difíceis – e tem-no conseguido. Os Strëam são o melhor exemplo actualmente. O álbum sai este ano, estão em vários airplays de rádios de várias partes do mundo e entraram na banda sonora do filme “Shred”, do canadiano Tom Green. Os Anomally são a mais recente promessa do Metal regional, o álbum também sai este ano a par do primeiro vídeo clip e já começam a serem conhecidos no meio metaleiro português.
Como estes existem outros que este espaço acaba por ser curto para mencioná-los um a um, mas a ideia fica sublinhada.
Tudo isto para dizer que o Oceano Atlântico já não parece tão grande como há uns anos atrás…
in Jornal "A União", 13 de Março, 2008
"A Noite", RDP-Açores, 19 de Março, 2008
1 comentário:
Isso é que é falar camarada... ou melhor teclar!!!
Um abraço
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