Texto – Miguel Linhares
Fotos – Bruno Ferreira
Passámos por mais um edição do Angrarock, esta com chuva só mesmo depois do término dos espectáculos, sem fazer, assim, as graças dos últimos anos durante as actuações das bandas. S. Pedro ajudou mais este ano e a organização também esmerou-se mais um pouco para que o recinto que todos os dias serve de estacionamento aos terceirenses, pudesse receber condignamente bandas e visitantes em mais esta edição do festival de rock da edilidade angrense.
De rock ouviu-se muito, mas nada pesado. Este ano as sonoridades pesadas foram atiradas para segundo plano, sendo que a banda que abriu o festival, 4 Saken, foram das mais pesadas em palco. Estamos a falar da primeira noite e a banda é a terceira classificada do concurso Angrarock, os terceirenses 4 Saken. Composta, maioritariamente, por músicos muito experientes e conhecidos dos amantes do género, os 4 Saken apresentaram um som original, fora do comum na Terceira, com imensas influências distintas, passando pelo trash e prog, na sua maioria e com picos muito interessantes, tanto vocais, como instrumentais. A banda demonstrou qualidade, presença, atitude e muita garra, infelizmente o som para o exterior não era o de melhor qualidade, pelo que a nível de guitarras e bateria a confusão era imensa…
Os Orangotang eram a próxima aposta da organização para esta noite mais “pesada”. O colectivo de Mondim de Basto não conseguiu realmente entrar com o pé direito em palco e a sonoridade não cativou suficientemente os presentes no Bailão. Muito desvanecida, sem grande comunicação com o público, a apresentação dos Orangotang na Terceira ainda teve um pequeno, mas enérgico, grupo de apoiantes do início ao fim. Soube a pouco…
A fechar esta noite, os More Than a Thousand, banda alternativa que se divide entre Londres e Lisboa. Hardcore e Indie misturam-se criando momentos melódicos muito interessantes seguidos de passagens completamente pesadas, a puxar o mosh (algo que quase não aconteceu…). Por vezes com passagens a fazer lembrar Deftones, os More Than a Thousand possuem uma excelente presença em palco, com momentos realmente demolidores em que o público do Bailão respondeu positivamente. Pouco público, mas bom, muito bom. Um dos melhores concertos do Angrarock.
Na segunda noite do festival e por motivos pessoais, não foi possível ao autor desta review presenciar a actuação da primeira banda da noite, os Anjos Negros, segundos classificados do concurso Angrarock, pelo que nada pode ser dito…
O regresso dos RIP era esperado por muitos e estava a suscitar grande curiosidade no público. Depois de 12 anos inactivos, queria-se ver como estava aquela que tinha sido uma das mais importantes bandas de rock dos Açores no início dos anos 90. Primeira impressão: instrumentalmente estão quase iguais! O mesmo som característico daquele pop/rock vincado pelos anos 80. Nada mudou. O único ponto mais fraco deverão ter sido as vocalizações que, infelizmente, já não são as mesmas e talvez sejam o efeito de uma longa paragem na música. Mas sempre dentro do aceitável! Todos os grandes temas da banda passaram pelo palco do Bailão e ficou a curiosidade de saber se voltarão a se reunir e a compor…
A fechar esta noite, aquela que terá sido a grande surpresa musical deste festival, os alemães Die Happy. Completamente surpreendente foi a actuação desta banda em que se destaca a excelente voz e fantástica presença em palco da vocalista Marta Jandová, natural da República Checa. A comunicação com o público foi constante, aberta, positiva e muito entusiasta. Atrás de si, uma excelente banda, com uma secção rítmica muito consistente, em que as músicas dos Die Happy fluíam naturalmente. O público foi-se deixando contagiar pela energia do conjunto germânico e agradeceu a sua visita. Um dos pontos altos deste Angrarock!
Terceira e última noite a abrir com os vencedores do concurso deste ano, os angrenses Amnnezia. O peso da vitória pesava-lhes perante a simpática moldura humana que lá estava para vê-los e o quinteto terceirense confirmou a qualidade. A banda tem vindo a crescer e a amadurecer nos últimos dois anos e o palco do Bailão não lhes amedrontou. Rock bem ritmado, sintonia entre duas guitarras bem coordenadas e as vocalizações a convencerem, ora em inglês, ora em português. Mereceram os aplausos!
Seguia-se os Mundo Cão, uma das melhores bandas de rock da actualidade. Com letras de Adolfo Luxúria Canibal e tendo nas suas fileiras membros dos Mão Morta e, por exemplo, dos já extintos Braindead, este colectivo que tem no seu vocalista o membro mais conhecido do público em geral (o actor Pedro Laginha) acabou por criar dos momentos mais interessantes do Angrarock. Rock muito negro, melodioso mas nunca “alegre”. Muito ao estilo de Mão Morta. O público chegava-se ao palco e os Mundo Cão carregaram o ambiente com música de muita qualidade e sensibilidade. Um grupo a ter em atenção!
A fechar esta noite e este festival os “mais-que-conhecidos-e-cantados” Da Weasel. Por ser uma das maiores bandas portuguesas da actualidade e das que mais vendem, não era de estranhar um Bailão quase cheio. Dos milhares de pessoas presente, poucos foram os que não dançaram e cantaram com Pacman e companheiros. Todos os grandes sucessos do grupo ficaram para o encore que finalizou com o primeiro single do último álbum “Amor, Escárnio e Maldizer”. Pouco mais há a dizer sobre aquele que acabou por ser – previsivelmente – o maior momento e mais aplaudido do festival Angrarock 2007.A nível de palco (condições sonoros e cénicas) convém mencionar a grande melhoria este ano. O recinto, embora mais colorido, o mesmo de sempre em que o alcatrão destoa. O público este ano foi superior, em número, aos anos anteriores em qualquer uma das noites. Mais uma vez as bandas locais – que não possuem técnicos próprios – ficam a perder no apoio em palco e durante a actuação. Caso gritante foi o do guitarrista de Amnnezia que na última música teve um problema com o cinto da guitarra que lhe caiu e teve que parar de tocar, segurar a guitarra e tentar colocar o cinto para finalizar a actuação. Não conseguiu, ninguém lhe ajudou e tão depressa ele atirou o cinto ao chão, apoiou a guitarra numa das pernas e lá acabou a sua actuação. Se alguém em palco viu, não se sabe. Que ninguém acorreu, é certo. Nada que sirva para denegrir um festival que merece nota positiva pelo público que lá esteve. Parabéns aos intervenientes!
in jornal "A União", 5 de Setembro, 2007
2 comentários:
As minhas pics :P
Parabéns à organização e a todos os músicos que participaram no AngraRock 2007.
Ainda bem que temos um festival desta qualidade nos Açores, não desfasendo os outros como o Azure que tembém foi execelente.
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